segunda-feira, abril 02, 2007

SALGADO

Marcus Ottoni


"Nas Ilhas Salomão, porém, não houve tempo para alertas. Cinco minutos depois do terremoto, ondas gigantes de três a cinco metros de altura invadiram o arquipélago e avançaram por até um quilômetro."
Agência Estado

Orf


Eduardo Alexandre declama no Sarau da Aliança Francesa



como fogo fátuo

ali onde planta-se
a raiz da minha angústia
ali tu estás

aqui onde banho-me
nas águas frias da ausência
aqui tu estás

em mim onde faz-se
o desejo carne em flor
em mim tu estás

assim no entremeio
dos caminhos nos meus dias
assim tu estás

perene posto tatuagem
efêmero feito holografia

Márcia Maia


MEU CANTO

Meu canto eu invento inteiriço e pedaço,
no espaço que é disso: o cinzento — se tanto.
Fracasso o feitiço, alimento de pranto,
enquanto acrescento sumiço e cansaço.
Transplanto o momento se omisso lhe traço,
aumento o quebranto e desfaço o seu viço,
tormento o acalanto, me enlaço e me enliço,
me enguiço e me amasso e me planto no vento,
cobiço o estilhaço por manto e ungüento
no intento de um canto onde nasço demisso.

Rebento esse canto e renasço remisso
e nisso me embaço — no entanto a contento,
maciço mormaço de espanto aparento
e atento adianto meu passo enfermiço.
O alento suplanto e em bagaço aterrisso,
decanto o andamento e espreguiço o compasso,
o canto que eu tento é só isso: erro crasso,
refaço o serviço se isento me encanto,
no abraço postiço apresento o não-canto
que eu canto e me ausento e permisso me faço.

Antoniel Campos



Decisão

Hoje acordei disposto
A retalhar meus sonhos
Navalha na carne das ilusões
Esquartejar desejos...

Hoje acordei disposto
A não ser eu mesmo
A me perder na multidão
Desvanecer na fumaça...

Hoje, serei milhares
E ninguém
Hades, Eros, Hécate

Hoje, quebrarei juras
Contarei mentiras
Brincarei com meus pulsos...

Cefas Carvalho


Em defesa da Ribeira
Uma Ponte para o Passado

É preciso ficarmos atentos (e fortes)
A Prefeitura do Natal está realizando obra na praça Augusto Severo,
dentro do processo de (re)reurbanização da Ribeira.
A preocupação é com a antiga ponte que (ainda) está em pé.

Sabendo de nossa tendência ao estupro cultural
E que em nome da modernização dilapidamos nosso patrimônio histórico-arquitetônico
a praça André de Albuquerque que já havia perdido para a ditadura militar
quanto tombou a Galeria Metropolitana de Arte
e depois da recente reforma perdeu o último coreto da cidade,
derrubado pela falta de memória que nos assola
e pelo medo de atestar nosso passado provinciano e rural.

Estou receoso que os “gênios” derrubem também a ponte
um símbolo do lugar que era conhecida com o “Salgado”.

Segue um texto retirado do livro “Disfarçados”
de Lucas da Costa, 1924.

Plínio Sanderson


“Praça Augusto Severo - E um magnífico logradouro da cidade de Natal.

Circulada por diversas casas commerciaes, pelo cinema Poly­theama, Theatro Garlos Gomes, Grupo Escolar Augusto Severo, Escola Domestica, Estação da Great Western, e outros estabeleci­mentos, se estende alcançando uma área maior talvez de quinhentos metros em quadro.

Projectada pelo dr. Herculano Ramos e construída sob a di­recção do mesmo, no governo do dr. Alberto Maranhão, vê-se num dos seus melhores pontos, bello corêto para tocatas, que realça pela elegância dos seus ornatos e decorações.

Recortada por graciosas alamedas em diferentes direcções, há também dentro da mesma praça um sinuoso canal onde o rio Potengy vem deitar as suas claras águas e reflectir no seu espelho as verdes frondes dos arbustos e arvóres que ali se elevam.

Toda entremeada de pequenos bancos de madeira. Notam-se ainda nella, além de uma cabana bem artística, pequenas pontes de cimento armado que dão paisagem sobre o estreito canal.

E de extraltar, porém, que sendo a Praça Augusto Severo um esplendido ponto de distracção na cidade. Seja tão deficientemente illuminada á noite.

Lucas da Costa



Em direção a zona sul

Por volta das 12h, Eduardo Alexandre (Dunga), pai de Edgar Allan Pôla, ligou para informar que a entrevista do nosso programa “Câmara Cultural” (TV a cabo, canal 37) seria com o compositor Mirabô Dantas. Eu estava na agência terminando de redigir uns textos e repassando algumas informações para um “Fampress” que iria começar naquela sexta-feira envolvendo jornalistas de todas as partes do Brasil, e fiquei animado. Já havíamos entrevistado Mirabô em outra ocasião e conversar com o poeta era sempre muito agradável. Ele sempre tem Histórias incríveis dos anos dourados, quando a Praia do Meio virou Praia dos Artistas.

Normalmente depois da gravação do programa, que é sempre na sexta-feira, não volto mais para a Agência. Tomo, com Dunga, o rumo do Beco da Lama para colocarmos os assuntos em dia e ficar por dentro dos movimentos culturais do Centro Histórico de Natal, sempre em ebulição e cada vez mais sendo descoberto pela população e pelos turistas. Mas, naquela sexta, teria que ser diferente. Eu estava precisando voltar ao trabalho para concluir alguns telefonemas e providências referentes ao evento que estávamos organizando. Calculei que após a gravação intimaria Dunga a me deixar na agência, cerca de uns cinco quilômetros do estúdio da TV, no seu Santana 1989, conhecido por "Ferrugem".

Gravamos, e após nos despedirmos de Mirabô, já na arborizada calçada da avenida Campos Sales, pedi que ele fosse me deixar.

- É longe? – perguntou.

- Nada! – respondi – É bem ali, na avenida Romualdo Galvão, nas proximidades da faculdade FAL...

- Então é perto do Estádio Machadão... Vou não, é muito longe!

- Tudo bem – me resignei – eu pego um ônibus ali na avenida Afonso Pena. Mais tarde nos encontramos.

Quando comecei a andar ele assobiou e disse:

- Entre aqui! – Tinha mudado de idéia.

Dirigi-me para a porta do carona, mas ele insistiu:

- Entre aqui! Pela porta do motorista, que é a única das quatro portas do Santana que ainda abre...

Foi um sufoco danado. Passei por cima da chave de fenda que atualmente substitui a alavanca de marchas e me deitei no banco. Sim, me deitei porque o encosto é completamente arriado. Abri bem as pernas – tem um buraco no assoalho – e fiquei genicologicamente instalado quando começamos a nos mover. O carro, aceleradíssimo e com problemas na descarga fazia um barulho enorme. A velocidade era controlada por Dunga por meio da embreagem. E lá fomos nós, observados por algumas adolescentes que estavam na calçada e que não paravam de rir da pilotagem e do meu desconforto.

Saímos pela avenida Rodrigues Alves em direção a Romualdo Galvão e quando chegou na Praça Augusto Leite, Dunga perguntou:

- Tá longe?

- E como é que eu vou saber? Eu estou vendo somente o Céu e nuvens...

- Levante a cabeça!

Levantei e respondi, mentindo:

- Nada, faltam uns três, talvez quatro quarteirões.

- É muito longe – acabrunhou-se – eu não estou acostumado a andar por esses lados.

Provoquei:

- E o carro agüenta?

Pensei que ele ia me mandar descer, quando semi-cerrou os olhos e respondeu:

- Agüenta! Você ainda vai andar nesse carro alguns anos.

- Conserte ao menos as portas...

Ficou calado e somente falou quando eu comecei a contar, um, dois, três... Já estava bem no número trinta quando ele disse:

- Está contando o quê?

- Somente passando tempo. Olho pelo buraco do assoalho e vou contando as marcações do asfalto.

- Nunca mais lhe dou uma carona! Fica esculhambando o meu automóvel... Fique sabendo que esse carro é da família desde novo e nunca me deixa na mão!

E continuou:

- Está perto?

Já estávamos a dois quarteirões e garanti que em cinco minutos chegaríamos. Já fazia quase quarenta que estávamos rodando a uma velocidade média de 20 quilômetros por hora e atraindo todos os olhares das pessoas que estavam nas calçadas, principalmente dos vendedores de carros das muitas lojas que existem naquela avenida. Pessoalmente calculei que eles estariam apostando quando o “automóvel” de Dunga iria parar definitivamente. Talvez, fizessem apostas para adivinhar qual seria a cor original do bólido, hoje indefinida.

- Não dá para ir mais rápido? Perguntei.

- Fique frio que o bichinho não está acostumado a essa avenida. É genioso e já está puxando para a direita...

Finalmente chegamos. Desatou o cinto de segurança (ele dá um laço), desceu para que eu pudesse me esticar e sair agarrado na direção, que está sem a cobertura normal, já nos ferros.

Agradeci e quando fui abrindo a porta da agencia ele gritou do outro lado da rua, de cara feia:

- Se fizer uma crônica dessa viagem eu nunca mais lhe dou uma carona!

Leonardo Sodré

por Alma do Beco | 11:41 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

.. .. ..

.. .. ..

Recentes


.. .. ..

Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

.. .. ..

A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

layout by
mariza lourenço

.. .. ..

Powered by Blogger

eXTReMe Tracker