quarta-feira, julho 05, 2006

PALADAR EXÓTICO DA LOUCURA

Marcus Ottoni


“Zidane esteve fantástico. Chegou ao Mundial como se cada partida fosse a última.”
Pelé

"No meu governo, não mandam nem Bush nem Chávez."
Heloísa Helena

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Freguês

Dizem que as grandes excelências
Estão nos pequenos frascos burgueses
Pão francês tem em toda padaria
Os padeiros são portugueses
E o Brasil é freguês desde 86 eu lembro
Napoleão morreu lutando
A seleção partiu se rendendo
Agora pode ser baguete
Pode ser bacalhau
Pode ser espaguete
Ou joelho de Porco com sal
Não faz mal
Nem o príncipe
Nem o Imperador
Nem o fenômeno
Só uma parreira sem uva
E uma chuteira Nike dando tchau...

Mário Henrique Araújo


SENTIDOS

Desejo amar o corpo de um sorriso no altar de seus mistérios antes de o dia amanhecer insolente, mal-humorado, atravessando as frestas das janelas numa carruagem puxada por cavalos de fogo rumo ao ocidente da cama úmida que nos enche o bucho de moleza. Não quero mais luz, não preciso de mais luz. Não pela luz ou pelo dia, apenas porque os olhos da musa bastam por lume no breu do quarto.

Embriague-me entornando copos de palavras ilícitas, sem gelo, muito menos energético, no tribunal secreto de meus tímpanos rotos de juras e segredos inconfessáveis além das fronteiras da luxúria. Necessito ouvir indecências, gemidos, gritos se possível, da boca miúda e rósea da Protegida por Deus que se desencaminha, mas sempre é salva por um anjo barroco habitante desta floresta negra do meu peito.

Sinta a fragrância da carne urdida em dois suores confiados à mesma panela untada com todos temperos mundanos. Permita ao cheiro da tesão tomar o rumo da venta e atravessar as paredes da toca, quem sabe ofendendo a vizinhança invejosa e mal-amada das outras galáxias, quem sabe incentivando a platéia invisível do circo. Depois, invada-me a ausência de juízo com sobejos perfumados de requeijão.

Beba em taça de cristal vagabundo este corpo derretido nas curvas do imenso corpo do vento. Deite sobre minha língua sua língua depois desça e desça e desça e desça depois suba e suba e suba e suba e desça e suba e suba e suba e desça e suba e desça e desça suba desça suba caminhe de frente para trás de trás para frente lado banda revestrés perca-se ache-se desoriente-se no paladar exótico da loucura.

Engula minha alma de boêmio incurável, de poeta desprovido da tal inspiração, de cronista despido dos assuntos cotidianos, de amante aposentado nos cabarés, com a boca das mulheres que são você, esse monte de mulher no mesmo shortinho preto, essa galera perdida e encontrada na melodia mágica de quando João Gilberto se levanta para tatuar a tez da flor com acordes dissonantes repletos de sabor.

Moça que se preza cultiva do primeiro ao último sentido, sem se descuidar do devir. Se nada fizer lógica depois de se ver, de se ouvir, de se cheirar, de se tocar e de se saborear cada letra que ofereço entre goles, goles e goles de maltes mais ou menos envelhecidos, rasgue, faz favor, a intuição da prosa e jogue os pedaços pela janela do terceiro andar. Talvez alguém os aproveite numa colcha de retalhos.

Cid Augusto



De memoricídio ou de destruição de livros

Poucas coisas neste mundo me irritam mais que ver alguem dobrando um livro, como se fosse uma revista de palavras cruzadas ou uma revista Caras. Dói-me até a alma ver um livro nesta situação.

Não que os livros devam ser totens intocados, como fazem espíritos fúteis que compram livros "da moda", como Milan Kundera foi um dia e hoje "O Código da Vinci" o é, e os colocam na estante para mostrar aos amigos e visitas como são "cultos" e "atualizados". nada disso.

Livros são para marcarmos, manusearmos, emprestarmos, livros devem estar em movimento. Mas não precisam ser destruídos por negligência ou descaso. Daí meu interesse por um livro que chegou às livrarias: "A história universal da destruição dos livros", do ensaísta venezuelano Fernando Baez (Ediouro, 438 páginas, 49 reais). Já estou juntando minhas moedas para correr a Siciliano, AS Livros ou Potylivros tão logo ele aporte em Natal. A obra investiga a história do que o autor chama de "memoricídio", que é a destruição sistemática e proposital de livros ou informações.

Segundo as resenhas que li sobre o estudo, a obra é fascinante: investiga desde a destruição, provavelmente pelos árabes, da famosa Biblioteca de Alexandria (no Egito) que tinha 700 mil papiros, passa pela intolerância dos inquisidores católicos que queimavam livros (e, quase sempre, seus autores) até chegar ao nazismo, que destruiu obras que não primavam pela "ideologia ariana".

Curiosamente, o autor registra que os maiores destruidores de livros não são bárbaros iletrados, como haveríamos de pensar, mas sim intelectuais. Isso porque são pessoas letradas quem têm noção do poder dos livros e portanto lutam por eliminar os livros que não correspondem à sua ideologia. Foi assim com os padres durante a Inquisição e tem sido assim até os dias de hoje.

Claro que, excetuando o que acontece em países islâmicos fundamentalistas e talvez nos grotões cristãos-radiciais de direita dos Estados Unidos, atualmente os livros não são mais destruídos como antigamente. Isso é bom? Possivelmente. Ou não. Pode significar que eles já não tem o poder de influenciar de antes, portanto, não são mais tão perigosos. Basta conferir as listas dos livros mais vendidos. Manuais de auto-ajuda, magias paulocoelhianas, best selleres de John Grisham, piadas do casseta e Planeta... nada parecido com obras como Ulisses (de Joyce) ou os ensaios do Marquês de Sade, que apavoravam a aristocracia francesa pré-revolução.

Hoje não temos mais queimas de livros, mas também não possuimos mais um Shakespeare, um Dante Alighieri, um Cervantes. Pensando bem, talvez fosse bom retornarmos aos velhos tempos...

Cefas Carvalho

por Alma do Beco | 6:49 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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