terça-feira, junho 06, 2006

EPÍSTOLA

Marcus Ottoni


“Caberá ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, decidir se aceita ou não o pedido da OAB e abrir uma denúncia contra o presidente.”
Da Folha Online, sobre o pedido da OAB de aprofundamento das investigações contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de possível envolvimento com o "mensalão".

Hugo Macedo
Hugo Macedo

ELINO

Vamos dar valor a quem trabalha
Vamos dar valor a quem dá murro
Vamos dar valor ao sertão
De Elino Julião
Elino Julião das batistanas
Eguanas e tiranas
Léguas nordestinas
Vamos dar valor
A esse xodó de motorista
Desse anarquista matutez
Que assoletra um caderno de poesia
De uma única vez
Vamos dar valor a esse jumento sem rabo
Que duelou com um tal de Nascimento
Por causa de um pezinho de coentro
Vamos dar valor a esse rapaz
Que encantou o mundo
Vindo de um tal de Seridó
Do forró da Coréia
Da rede véia
Que comeu foi fogo
Foi com nós dois
Pra lá e pra cá...
Vamos dar valor a Elino da roça
Da cangaia de jegue
Do cuscuz com melaço
E da raspa de tacho.

Elino do norte
Elino Paraíba
Elino baiano
Elino é viola
Elino é serrote
Elino é cachaça fria
Do pé do pote.

Elino,
Você sempre recitará
Em minha vitrola
A sua poesia
Com o seu jeito de cantar
Canção.

Oreny Júnior




Palavras perdidas

Dia desses conversando por e-mails com uma amiga que mora em Recife, falamos (isto é, digitamos) sobre a saudade que ambos sentíamos da troca de cartas pelo bom, velho e confiável Correio. Foi quando ela me disse que me mandaria uma epístola. Quase tive um orgasmo. Havia muito tempo, anos possivelmente, que eu não ouvia essa palavra. E ouvi-la – ainda que por e-mail – da boca (ou das teclas) de uma menina de vinte e um anos me pareceu o máximo.

Epístola...uma das mais belas palavras para se descrever uma carta. Pena que é uma palavra à beira de extinção, como tantas outras, que estão desaparecendo diante da falta de leitura das gerações mais jovens e da simplificação absurda de palavras gerada pela Internet.

Temo que mesmo as palavras mais corriqueiras tendam a desaparecer. Pode ser o caso de “você”, pronome da segunda pessoa do singular (tu) que já é uma abreviação de “vosmicê”, que por sua vez já é uma corruptela do solene “Vossa mercê”, que vem da expressão “estou à vossa mercê”. Hoje na Internet se escreve “vc”.

Na rede de computadores, principalmente no Orkut, estão abolindo a acentuação. O “ão” está sendo escrito “aum”. A frase “Você não quer ir, não?”, portanto, é grafa assim: “Vc n queh ih naum?”. Está se criando outra língua na Internet. Há quem ache que isso é besteira, que não vai afetar em nada o mundo escrito fora da rede. Outros se sentem preocupados. Eu jogo no segundo time. Temo que meus filhos – Pedro, de dez e Ananda, de três anos – adentrem o universo da língua portuguesa com esta limitação de vocábulos e redução excessiva de palavras. Não creio que quem passe o dia trucidando o português na Internet vá escrever á noite uma monografia ou um texto acadêmico ou oficial com facilidade.

Esta situação me remete à história relatada no primeiro parágrafo, das palavras que infelizmente tendem a desaparecer. Algumas das minhas palavras preferidas estão condenadas a este fim....Paradoxo, idiossincrasia, paradigma, tergiversar, conluio, vertente, oblíquo...vocábulos facilmente encontráveis na boa literatura mas que são quase que proibidos em uma conversa internética e que atraem olhares feios de reprovação dos interlocutores quando em mesas de bar ou lugares do gênero.

Pensei em iniciar uma campanha para que escrevamos por extenso na Internet todas as palavras, mesmo que isso custe mais esforço e tempo. Mas, depois desisti. Tolice ir na contramão da modernidade e da velocidade. O que posso fazer é manter este hábito nos e-mails que eu escrevo, ainda que as respostas venham numa língua estranha e primitiva que lembra de longe o idioma de Camões, Bilac e Mário Quintana.

Palavras perdidas... lembrei de mais algumas que amo: torrencial, fluxo, estóico, sofisma, ilação, luminosidade... isso sem falar das palavras criadas por gênios e que se incorporaram ao meu vocabulário particular, como o “nonada” de Guimarães Rosa. Que não deixemos as palavras se perderem e que consigamos manter vidas – sãs e salvas – aquelas que os internautas apressados teimam em reduzir a sua expressão mínima. Minha vingança contra esse pessoal é que em breve não terão vocabulário suficiente para redigir uma redação em um vestibular ou escrever um texto minimamente concatenado para uma entrevista de admissão de emprego. Quem com o mau português fere, com a realidade será ferido.

Enquanto isso, esperarei pelo bom e velho correio, a epístola de minha amiga pernambucana, tal qual Julieta esperava as cartas de seu Romeu e os cristãos antigos esperavam as epístolas de Paulo de Tarso...

Cefas Carvalho

por Alma do Beco | 5:10 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

.. .. ..

.. .. ..

Recentes


.. .. ..

Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

.. .. ..

A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

layout by
mariza lourenço

.. .. ..

Powered by Blogger

eXTReMe Tracker