sexta-feira, maio 19, 2006

VIVA LULA!

Marcus Ottoni


“É um país cínico. É disso que nós temos que ter consciência. O cinismo nacional mata o Brasil. Este país tem que deixar de ser cínico.”
Cláudio Lembo, governador de São Paulo




Rima e métrica

Além de procurar escrever usando a técnica da métrica e da rima, que eu herdei dos poetas da minha terra, através da influência cultural dos menestréis da viola e do repente, que, às vezes, são tratados por intelectuais que nada conhecem da poesia dos repentistas, e que nunca foram a uma cantoria, tendo apenas uma idéia nebulosa informada pelo meio acadêmico, com seus conceitos de frieza emocional analítica; que, de forma pejorativa, recheada de discriminação, olham com os olhos das costas para os ditos poetas populares (não gosto do termo); que, na verdade, são clássicos, como foram os grandes poetas do passado, tanto em termos de Brasil como no Exterior.

Pois bem: gosto da chamada poesia livre, desde que tenha essência poética. Mas dizer que a poesia metrificada e rimada castra a criação do poeta é puro desconhecimento do processo de criação. Basta ir a uma cantoria e assistir, durante duas ou mais horas, dois poetas improvisando (com rima, métrica e essência poética) belíssimos poemas nos mais variados estilos, sem repetir um verso; enquanto muita gente, pra fazer uns minguados versos, passa duas ou mais horas rabiscando um pedaço de papel numa agonia imensa.

Todas as formas de artes têm, de maneira oculta, a matemática. Música é matemática, artes plásticas e outras artes, também exigem a obrigação do espaço, do tempo e do compasso.

Pois bem: eu escrevi um soneto há algum tempo em aliteração poética, no qual eu não uso preposição, artigo e nem conjunção. Só substantivos, verbos e adjetivos, todos iniciados em V.

Eis o soneto.


Viagem

Viajei várias vezes vislumbrado
Vi verter versos vindo velozmente
Velejei vendo vulto vanguardado
Vindo vingar verdejante vertente.

Vivi vários versos versificados
Vendo verves varando vivazmente
Vieram velhos vates versejados
Varamos vales, viramos videntes.

Vendavais versejantes vibrações
Verteram vinte vorazes vulcões
Vomitando versos vitoriosos

Vibrei vendo visagens vislumbrantes
Vivi várias visões vitalizantes
Venerei velhos vates valiosos.

Gilmar Leite



Viva Lula!

Tribuna do Norte
19/05/2006

A mais antiga lembrança que tenho de Luís Carlos Guimarães me remete ao Natal Club, no primeiro andar de um prédio na avenida Rio Branco com a João Pessoa. A mesa era ocupada por Lula, Sanderson e Newton Navarro, que mandava, comandava e pagava a conta. Eu, convidado especial, me afogando em timidez, tinha 16 anos e pela primeira vez me sentava com poetas, com pessoas já famosas na cidade. Newton me deu de presente o livro Ouro, de Blaise Cendrars, com um oferecimento generoso, que guardei com carinho durante muitos anos, até ser pilhado por uma pessoa sem escrúpulos. Na mesa do Natal Club, ocorreu um episódio que, segundo pesquisas de Woden e Alex Nascimento, já foi narrado 1.263 vezes em mesas de bar da cidade. Para aumentar a estatística, conto mais uma vez. Os três bebiam, emborcavam copos de cerveja numa rapidez espantosa, e eu tomava em pequenos goles o meu Guaraná Antárctica. Já meio melado, Newton se voltou para mim e perguntou em voz alta, agressiva: “E você, não bebe?” Segundo Lula e Sanderson, eu teria respondido: “Não senhor. Mas se o senhor quiser, eu bebo.”

Dessa noite em diante, me aproximei do poeta Lula, que foi meu cicerone em poesia, nos bares, nos cabarés da cidade, nos amores encontrados e desencontrados. Publicamos nossos primeiros livros em 1961, e neste mesmo ano Aluízio Alves patrocinou a ida de meia dúzia de poetas ao Rio de Janeiro, para um encontro nacional de literatura em Copacabana. Tivemos o mesmo alumbramento pelo Rio de Janeiro, numa época em que se podia andar a pé da praça Tiradentes, onde ficava o nosso hotel, até a Cinelândia, esticando até a Lapa, sem ser iluminado por balas traçantes, sem o perigo de ser achado por um bala perdida.

Ah, quantos anos de amizade, de encontros no Rio e em Natal, de cartas que ainda hoje se acumulam nas minhas gavetas desarrumadas. De vez em quando, havia um pequeno estremecimento na nossa amizade, mais por culpa minha, pois eu gostava de provocá-lo, de fazê-lo sair daquela tranqüilidade de currais-novense com monge tibetano sedutor. Culpa também dos astros, dos signos, porque dizem que dois geminianos, com a mesma ascendência, podem se estranhar à toa.

Conversar com Luís Carlos era um grande prazer, como um vinho raro que se degusta sem frescura. Leitor assíduo, atento, todo sensibilidade, ele falava de suas leituras como quem fala de paixões. Trazia para os bares a lembrança dos seus filmes preferidos, passava a narrá-los com a voz tranqüila, o olhar azul passeando em volta, e parecia que se armava uma tela de cinema na mesa em que ele estava. Mostrava os seus poemas, os livros que publicava, e aguardava com humildade quase excessiva uma opinião sobre sua poesia, seus livros que sempre surpreendiam pela qualidade.

No próximo dia 21, depois de amanhã, está fazendo cinco anos que o poeta Luís Carlos Guimarães “não atravessou a ponte de safena”, como ele mesmo registrou com premonição num poema. Mas Lula está tão vivo! Está muito presente no coração de Leda, dos filhos, dos amigos. Está presente cada vez mais pela sedução de sua poesia que vai atravessar gerações e permanecer no tempo - intacta, no ar.

Nei Leandro de Castro

por Alma do Beco | 2:31 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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