domingo, maio 21, 2006

VIVA ELINO!

Elino no Beco
Hugo Macedo
BRASIL PERDE ELINO JULIÃO

É com muita dor e pesar que comunico aos amigos o falecimento do músico potiguar Elino Julião, aos 69 anos, na noite deste sábado, após passar mal a caminho de um show em Assu.

Elino Julião, seridoense de Timbaúba dos Batista, discípulo e amigo de Jackson do Pandeiro, era uma das personalidades mais importantes da história cultural do nosso Estado.

Perdemos todos com sua ida.

Alex de Souza


Marcus Ottoni


“Lula traiciono al pueblo del Brasil y traicionaria a Hugo Chávez”
Cartaz afixado em rua de Caracas, Venezuela (Blog do Noblat)


Mirabô, Léo 5.2, Mércia Freire

O Forró da Coréia
Elino Julião e Oliveira Batista

Só tem véia
Só tem véia
No Forró da Coréia

Só tem véia
Só tem véia
No Forró da Coréia

Barco perdido, bem carregado
Eu tinha chegado em Natal
Muito mal eu sabia
Onde eram as Rocas
Caí na fofoca legal

Do Arial eu fui à pista
Limpei a pista na Vedéia
Saí tomando uns capilé
Quando eu dei fé
Tava na coréia

Só tem véia
Só tem véia
No Forró da Coréia

Só tem véia
Só tem véia
No Forró da Coréia

Outra vez, quando eu for a Rio Grande
Por favor, ninguém mande eu andar só
Eu prefiro ficar no Igapó
Daquele forró, tenho receio
A Praia do Meio é bom pra mim
No Alecrim, a gente se faz
Eu fico lá trocando idéia
Mas na Coréia eu não vou mais



Na Fundação José Augusto nem tudo é “foliaduto”

Sexta feira, final de tarde, trânsito congestionado, correria, cada um busca seu refúgio, em casa ou num barzinho qualquer da cidade, porque amanhã é sábado e depois é domingo. Não sou freqüentador assíduo dos bares da cidade, mas, vez por outra, me encalho no meio do caminho na volta para casa, mesmo enfrentando os protestos de Zeneide, quando não estou com ela, claro.

Foi o que aconteceu esta semana, ao sair da Fundação José Augusto, instituição que sirvo há muitos anos com orgulho, de tradição e história, que hoje está bela, apesar de ter seu nome envolvido em um escândalo que a imprensa denominou de “foliaduto” e que em nada diminui sua trajetória cultural: mais de 40 anos de história e relevantes serviços prestados a cultura do Rio Grande do Norte e brasileira. Os funcionários, modestos e honestos servidores, doze anos sem qualquer aumento salarial, no entanto, zelosos e dedicados trabalhadores da cultura.

Pois bem, quando afirmo que nossa casa está bela é porque hoje trabalhamos num espaço que foi totalmente restaurado, instalações confortáveis e informatizada. Ao lado do seu prédio principal, onde antes era um amontoado de entulhos, habitado por ratos e baratas, foi erguido um dos mais belos espaços culturais do nordeste brasileiro, “O Teatro de Cultura Popular”, que orgulha a casa do patrono José Augusto e Aluízio Alves, seu fundador, dois ícones da cultura e da política potiguar.

Vi restaurada a velha Fortaleza dos Reis Magos, a interiorização das ações através das Casas de Cultura, quando foi tombado e restaurado mais de 15 monumentos históricos para neles fazer funcionar as ditas Casas. Uma grande idéia, saída de uma cabeça privilegiada, o grande François Sivestre. Não ficou por aí, criou a Revista Preá, elogiada pelos mais diversos segmentos culturais do Estado e do país, um informativo cultural sem preconceito, com espaço aberto para todos os artistas, poetas, historiadores, pesquisadores e homens do povo, representativos da nossa rica e dinâmica cultura popular.

Existem outras ações planejadas e executadas na sua inteligente, dinâmica e profícua administração. Logicamente, para a realização de tais feitos, contou com o apoio da Governadora Wilma de Faria. E, aos que me perguntam: você bota a mão no fogo por François? Respondo: boto sim, não só eu, mas todos os que o conhecem, e em fogo de catingueira verde, como definiu seu amigo Gutenberg Costa, aquelas que ainda são acesas nos “arraiás” do São João, nos mais longínquos recantos interioranos. Enfrentou a implacável ditadura dos generais, quando teve que viver momentos de angústias e solidão nos cárceres do “regime da força”, para silenciar e aplaudir o governo dos generalatos. Nem uma coisa nem outra! Anos depois, o reencontro com mais freqüência: continua o mesmo, irreverente, porém humano, amigo, solidário e fiel às suas convicções, sem se curvar aos poderosos.

Este é o François que conhecemos. O mais é maldade e inveja. Longe dessa “nojeira”, como ele mesmo pronunciou num dos jornais da cidade.

A estas alturas, preciso dar alguns esclarecimentos, porque o leitor poderá concluir: esse é um bajulador juramentado de François Silvestre. Nada disto. Em meu dicionário não existe esta palavra. Sou, sim, um admirador deste homem de cultura. É preciso que saibam, os serviçais, subservientes e bajuladores, que eles são uma espécie que me enoja, me dá tédio, chego a ser acometido por sintomas de náuseas quando me deparo com alguns deles, que não são poucos.

Minha mãe, D. Olívia, 93 janeiros, lúcida, inteligente, uma grande mulher, um exemplo de vida, ao lado de meu pai, que já fez a viagem sem volta, nos ensinaram a mim e meus irmãos, a trilhar os caminhos da ética, da decência, da probidade e a acreditar na força do trabalho. Cultuo isto até hoje, não me arrependo e repasso para meus filhos.

Aos que não têm convivência comigo e pouco me conhecem, se tiverem alguma dúvida do que expus, consulte os colegas da casa ou até mesmo François, para saber quantas solicitações fiz de ordem pessoal ou para alguns de meus familiares? Pedi muito e fui atendido, dentro das possibilidades, e vou continuar pedindo à nova presidente, Isaura Rosado, acreditando na sua competência e sensibilidade para com as coisas do povo, a rica, inconfundível e cobiçada cultura popular do meu Estado, compromissado que sou com ela, seguindo os passos do guru Deífilo Gurgel, uma vida dedicada aos estudos do folclore potiguar e brasileiro.

Severino Vicente




Para te Esquecer

No final da década de setenta, muitos artistas e profissionais dos mais diversos ramos optaram por morar fora do Rio Grande do Norte. Naqueles tempos, as oportunidades eram remotas por aqui, principalmente no quesito arte. Três eram os destinos mais procurados: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O último, o preferido dos economistas e técnicos, como Evandro Freire, José Maria Pinheiro Lopes, José Roberto Cavalcanti e muitos outros. São Paulo era a atração principal dos que militavam na imprensa, como Roberto Guedes e Dorian Jorge Freire, que ocuparam cargos importantes na imprensa nacional. Já a cidade do Rio de Janeiro era a preferida pelos que tentavam ganhar a vida através das artes. Muitos talentos foram para lá, entre eles, a cantora Terezinha de Jesus, que se tornou conhecida nacionalmente, e o genial Mirabô Dantas, compositor de primeira. Na verdade um poeta sensível, que saindo de Areia Branca, ainda um menino de treze anos, e já compondo, passou por Natal e aportou depois, 'rapaz feito', no Rio de Janeiro. Com a cara, a coragem e um violão...

No Rio, sem muito dinheiro, Mirabô andou por muitos endereços. Os amigos ajudavam. Esteve pelo menos por umas cinco casas. Fazia músicas, composições belíssimas que eram gravadas por nomes que depois se tornariam grandes da Música Popular Brasileira, como Fagner, a conterrânea Terezinha de Jesus e Elba Ramalho, entre outros. Ganhava pouquíssimo. Tinha que se virar e aceitar a ajuda dos amigos. Era um pra lá e pra cá danado.

Entre as muitas amizades que fez naquela cidade, uma das mais produtivas em termos musicais era com o musicólogo Maurício Tapajós. Com ele, fez inúmeros trabalhos. Tornaram-se irmãos. Lembro que numa das viagens que fiz para o Rio de Janeiro - naquele tempo eu morava em Brasília -, visitei Maurício, que morava no Leblon. Numa tarde de sábado, tomamos todas. Eu, ele, Cláudio Burrão, Chico Acari, Marquete e Terezinha de Jesus. Mirabô não estava. Tinha ido não sei para onde apresentar umas composições a um artista. O apartamento de Maurício Tapajós parecia um shopping em termos de clima: ar condicionado emtodos os ambientes. E ele, todo tempo, perguntava: E Mirabô, não vem não?

Depois de 'ralar' um bocado no território lindo do Rio, finalmente Mirabô arranjou um emprego no Sindicato dos Músicos. Trabalhava durante o dia, fazia músicas à noite e farreava nas madrugadas. Dormir, pra quê? Nesse tempo, já morava na quinta casa. Dividia um apartamento com a potiguar Graça Arruda, que por coincidência era namorada de Maurício Tapajós. Uma relação de grande amor tumultuado pelos inúmeros afazeres dos dois.

Num sábado de verão, Graça 'fez carreira para a praia'. A relação dela com Maurício Tapajós estava complicada. Artista é complicado, não tem horários. Às vezes fala. Noutras não. E, as mulheres querem atenção. Não importa que somente as amemos. Temos que demonstrar isso, e muitas vezes não conseguimos. Apenas amamos, pensamos nelas. Sentimos saudade. Mas, se não dissermos isso, tudo complica. Mas, voltando para o sábado, depois que Graça saiu, Mirabô ficou agarrado ao seu violão. Na mesinha, escrevia notas, poemas. Dedilhava, compunha. Parava, tomava uma cerveja, fiscalizava o Rio pela janela. Ouvia os barulhos. Sentava. Não fazia nada. Depois fazia. Era sábado, dia de relaxar. Calma, a inspiração vem, tem que ter vontade...

Abriu outra cerveja. Fechou os olhos. Como era mesmo o final do poema sonhado? De repente, um sobressalto. A cigarra toca. Nem tão estridente, era até razoavelmente baixa. Mas, soou como uma bomba, porque ele estava distante, navegando em poesias. Perto do céu. Custou a abrir totalmente os olhos. Levantou-se pesadamente e abriu a porta. Era Maurício Tapajós, suado, olhar constrangido de pressa.

- Olá meu irmão, vamos entrando. Venha tomar uma cerveja, que Graça chega daqui a pouco...

- Obrigado amigo. Até quero, mas não devo. Não posso. Faça-me um favor: entregue esse poema a Graça. Diga a ela que foi bom. Ou melhor, não diga nada apenas entregue... Adiós.

Com o poema nas mãos, Mirabô se despediu de Maurício. Que pressa, será que aconteceu alguma coisa? Acho que não, Graça saiu tão tranqüila para a praia. Abanou-se com a página, voltou ao sofá e leu “Para Te Esquecer”. Maurício estava acabando a relação usando um belo poema. Leu de novo e começou a colocar a música. Não demorou, estava prontinha da silva. Ficou feliz, pois naquele final da manhã estava meio árido, sem inspiração, que somente chegou depois que Maurício tinha deixado o bota-fora de Graça.

Enquanto tomava a terceira cerveja, Graça chega da praia esbaforida. Tinha um compromisso à tarde. Vou correndo tomar um banho! Mirabô tentou falar com ela:

- Amiga escute essa canção. Acho que você vai gostar...

- Mirabô eu vou tomando banho e ouvindo. Vou deixar a porta entreaberta. Vá cantando...

Ele começou a cantar a música, que, aliás, estará no seu primeiro CD que será lançado proximamente. Quase no final da música, Graça volta tão esbaforida quanto tinha entrado. Cabelos molhados, enrolada numa toalha, lágrimas nos olhos e gritando:

- Maurício Tapajós esteve aqui!

Leonardo Sodré




MAMÃE CARINA

Conhecia-a num semáforo, na época natalina. O sinal fechou e o carro parou exatamente ao seu lado. Era madrugada e um cobertor agasalhava-a junto aos seus três filhos. Sentados juntinhos, eles apenas esperavam que a cena suscitasse piedade e doações. O mais novo jazia adormecido em seus braços, e os outros dois, com frio e sono, aninhavam-se ao seu redor. Parecia um presépio pós-moderno.
Questionei a validade da mendicância naquela hora. O frio da madrugada poderia ser muito mais oneroso que os poucos tostões amealhados. Não precisei de uma retórica muito convincente. Seu coração de mãe entendeu o conselho vindo de outro igual. Logo após abrir o sinal, ouvi o grito de uma das crianças: “Você deixa a gente em casa?”
É sábio o provérbio que diz: “As coisas não acontecem por acaso”. E Independente de saber o destino dos futuros passageiros, encostei o carro e aguardei-os. Ela aproximou-se com sua família ambulante e falou onde morava. Coincidentemente, bem próximo a minha casa.
Conversamos no caminho. Carina é jovem, quase negra, traços afilados. Uma beleza simples. Mora com o pai dos seus filhos, um catador de lixo reciclável. Já trabalhou em casa de família, mas os cuidados com as crianças a impediu de continuar. Perguntei-lhe sobre seu dia-a-dia; sua infância; seus métodos contraceptivos. Falou que tivera estudos, contudo a necessidade de ganhar o pão trouxera-a a cidade. Mas, na cidade, só fizera reproduzir-se e continuar sem pão. Dependia do posto de saúde para as pílulas e nem sempre tinha o produto por lá. Falei-lhe sobre outras opções. Ela, agradecida, poupou-me de deixá-la exatamente em sua porta. Eu, mais ainda, parei em frente a minha e subtraí alguns itens da dispensa, feliz, por saber que, por um curto tempo, a fome daquelas pessoas seria saciada.
E a vida continuou com sua dança das horas. Às vezes, num ritmo tão frenético que não damos conta e, como na dança das cadeiras, se não conseguimos ter agilidade necessária, dançamos mesmo. Outras vezes, tão incompreensivelmente lenta, que parece até torneira pingando no meio de uma madrugada insone. Pura tortura chinesa.
Carina, após algumas visitas dominicais para lanches e conversas rápidas, sumiu por longos meses. Imaginei problemas no seu assentamento. Não era. Uma pneumonia quase a havia derrubado de vez - soube, tempos depois, quando, um pouco mais recuperada, conseguiu aparecer em suas visitas matinais, trêmula e pálida, sempre arrodeada pelas crianças. Alimentei-a com atenção e comida e, entre surpresa e penalizada, ouvi a novidade: estava grávida novamente.
No dia das mães, recebi Carina e sua filhinha embutida numa barriga de oito meses. Mesmo ainda anêmica, parecia bem melhor que a última vez que a vi. Veio receber roupas e mantimentos que conseguimos arrecadar entre parentes e amigos. Aos vinte e cinco anos incompletos, esta nova criança será seu sexto filho. Aos três anteriores, poderiam ainda estar somados mais um que nasceu deficiente e foi adotado e outro, que desistiu de viver antes de nascer.
Finalmente, quase um ano e meio depois, dou a carona completa a Carina. Seu barraco, feito de papelão e sobras de construção, é o primeiro na esquina de uma nova rua que agora se forma ao pé de uma duna. São habitações com arquitetura feia e pobre, construídas com restos. Descemos seus pacotes de restos de roupas e comidas e desejamos um feliz resto do dia das mães. Pelo retrovisor, enquanto manobrei para evitar as lagoas de lama, vi a cunhada de Carina, que também é mãe e divide com ela o barracão, receber, da filhinha bebê, sentada num resto de carrinho, o melhor presente: um sincero sorriso banguela que iluminou, mais ainda, o dourado da tarde.


Ana Cristina Cavalcanti Tinôco

por Alma do Beco | 8:04 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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