quinta-feira, abril 13, 2006

CREDO

Marcus Ottoni


Há uma manobra que lamentavelmente envolve o meu partido. Os deputados do PT não estão aqui [no plenário da comissão]. A troco de quê? Do toma lá, dá cá? Isso é intolerável. Desde de setembro, o caso do Janene está sendo postergado."
Deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), relator do processo contra José Janene (PP-PR) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara

Orf

Natal/RN

Silêncio do Tempo

Estou mudo agora.
Mudo, tudo fora.
Mudo, mundo dentro.
Não sei até quando
a mudez será sempre.
Sei que a mudez,
às vezes,
é medo de gente,
é medo do tempo,
uivos do vento.

Minha voz,
nem eu a ouço.
Forço-a como quem,
num pesadelo sem fim,
grita no escuro profundo,
buscando a voz terna
da mãe.

Ficarei assim, mudo,
enquanto tudo durar
como algo que não se deve
ver nem acreditar.
Muito menos repetir,
com ato e voz.

Deixo de acreditar
e emudeço,
no tempo em que meu sonho
trava.

Quando o tempo abrir
e o arco-íris despontar.
Quando um vôo de pássaro
no céu,
uma vaga no mar,
uma folha seca de outono
cair sobre os meus olhos,
bailando, antes, lentamente,
no ar,
dança/esperança,
então, não só os olhos
abrirei.

Abrirei, lá, um sorriso,
o mais verdadeiro,
e minha voz, então,
vibrará, forte,
entre milhões de outras,
nas únicas palavras,
aquelas a que resisto
dizer agora:
creio no homem!

Lívio Oliveira




O AMOR DAS DUAS

Ainda estou paralisado no entreolhar daquelas duas. Tanto que há cinco noites, o mesmo sonho erótico me invade a cama, instalando-se entre mim e a mulher amada, enquanto ela dorme inocente, sem desconfiar da traição incendiando o próprio leito. Tanto que os meus dedos, rendidos à embriaguez por espasmos hormonais, confessam ao teclado do computador essas lúbricas intimidades.

As duas se cruzando num olhar são faca mirando faca, enquanto a platéia vai ao delírio, delírio contido de voyeur que não deseja nem de longe ser notado, para não interferir no jogo das feras. Belas? De que valem as belas entre as feras? Melhor as feras, o coração das feras, o sexo das feras devorando as belas. Desde menino sei que amor entre feras é mais terra, é mais peixe, é mais planta, é mais humano.

Perdoem-me os ditos puros, mas a carne que me envolve é fraca – muito fraca! – e a liberdade dos meus pensamentos é indevassável, a ponto de eu dizer, sem o confortável recurso da metáfora profunda, que mulheres que gemem na cruz e na espada são o maior tesão, a fantasia mais ou menos secreta de todo cabra macho e de muitas fêmeas no cio, fogo que devora fogo na maciez de uma língua.

Mulheres que gemem na cruz e na espada são a reencarnação da tempestade. O entreolhar daquelas duas me contou. Tempestade capaz de arrasar plantações, de sacudir montanhas, de arrancar telhados, de estremecer o corpo, devorar suspiros e desferir uivos na boca do estômago. Tempestade prenúncio de calmaria, bonança que sucede o gozo, se o orgasmo é mútuo, profundo e se completa.

Abençoa-me, Deusa da Águas Doces, pois o amor das duas é pureza. É mão dupla. É paciência. É miragem. Perdoa-me, Mãe da Natureza, por quando o amor das duas for lábio, língua, peito, quando for tremelique, quando for sacanagem, quando for mais desejo do que agora e eu morrer de tesão e de inveja, contemplando o duelo das coxas que em minhas torpes viagens já escorregam na saliva.

O amor das duas, quem me dera a graça, o pão e o vinho de morrer por um instante na conjunção daqueles seios! Ah, que os ventos me guiem nas estradas da luxúria, pelos campos selvagens do espírito onde a salvação e o pecado não oprimem o ser humano, porque estão bem acima das verdades, onde eu possa ser o mar bebendo as águas de dois rios mágicos e fundos que habitam a mesma foz.

Cid Augusto

por Alma do Beco | 8:28 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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