segunda-feira, outubro 09, 2006

PRAÇA D'ALMA

Marcus Ottoni



"Os dois primeiros blocos foram quase que totalmente dedicados à 'lavagem de roupa suja'."

Folha On Line, sobre o debate Lula X Alckmin

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Oficina de Coquetéis de Cachaça antecede
Festival Gastronômico do Beco da Lama


Nesta quarta-feira, 11 de outubro, a partir das 15:00h, na Rua Dr. José Ivo, Beco da Lama, será realizada a I Oficina de Coquetéis de Cachaça. A promoção tem por objetivo chamar a atenção para a realização da terceira edição do Pratodomundo - III Festival Gastronômico do Beco da Lama e Adjacências, que acontecerá entre os dias 4 e 24 de novembro.

A I Oficina de Coquetéis de Cachaça é uma promoção da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências - SAMBA, em parceria com a Agência Cultural do Sebrae e Cachaça Maria Boa, lançada na última edição do Pratodomundo. O evento reunirá profissionais do setor boêmio e gastronômico do centro da cidade, que conhecerão receitas de coquetéis a partir de frutas regionais.

Nesta quarta-feira encerram-se as inscrições de bares e restaurantes que concorrerão ao festival de gastronomia do Beco da Lama, esperando-se a ampliação de pratos concorrentes, 11 no ano passado. Asw fichas de inscrição podem ser obtidas e entregues no local da Oficina, ou na sede da Agência Cultural do Sebrae, no Solar Bela Vista. Na primeira edição do Pratodomundo, o ganhador foi o Bar da Amizade, com uma rabada, e, na segunda versão, o prato vencedor foi a buchada do Bar de Mãinha.

A presença de empresários dos bares, botecos e restauranes participantes, bem como das instituições parceiras e demais pessoas interessadas é considerada de fundamental importância pelos que estão trabalhando na produção do III Pratodomundo, sobretudo pela oportunidade de fortalecer o espaço urbano do Beco da Lama e adjacências, que desponta com grandes potenciais para o desenvolvimento de uma política voltada para o turismo cultural no centro histórico de Natal.


B a m b a

Que bamba, meu coração na corda bamba...
A lua e o asfalto e as nuvens passantes no alto, cheia lua maré cheia e cá em baixo os fios e os fios e os rios, fio do asfalto e eu no meio fio

Tudo minha alma nada, qual bamba, que bamba, meu coração na corda bamba... Bem bam bam bam faz meu coração quando te sente, quando você passa, quando eu chego e você chega e me abraça, bem assim meu bem: sem bamba e bambo você me encontra no bambo...

Você assim sem mango nem samba, mangueiral, solto as mangas, sou tua, sou tua manga, sei que somos bambas, que bamba, meu coração só quer saber de samba... Meu coração na corda bamba... Quando você samba, quando você aponta, na rua na minha direção do seu coração, na minha onda...

Ah, quando você apronta, eu fico é tonta e pronto, também apronto! Quando o que eu quero mesmo é que você se deixe, cale a boca e me beije... E faça nosso chão rodar... E que o sol as estrelas e a lua se deleitem e me faça brilhar, feito um feixe e tu a brilhar com um feixe...

Esse nosso coração radar, seres bamba, se você não tá pronto eu fico na corda bamba, vem cá benzinho, vem cá pro meu samba!

Meio fio razão pro nosso rio emoção... Fios tantos que se ligam, se liga! Vamos fazer uma liga? Deixa a lua beijar o mar, o asfalto, o mato, o que há... Que virá...

Que bamba, meu coração na corda bamba... Vem cá com seu bamba all star e eu de chinelas havanas, vem cá meu bamba, vem, vamos fazer samba!

Civone Medeiros



Ela, a Praça d'Alma

...Penso numa praça ou melhor começar assim: lembro de uma praça. Na praça que intervém com frequência entre os olhos da minha memória. Imagética. Visional. Sei que é só lembrança, semi-desconexa, déjà vu. Mas, a sinto tanto... Sei de seus cheiros, cores e vazios explícitos. Sei que essa praça arquivada quiçá aleatoriamente na memória, vivencialmente não a conheço; nem sei em que lugar pode ser que esteja. Especulo sua locação. Imagino-a aqui perto de casa mas não há praças por perto. Pode ser no limite de um precipício ou a beira-mar. Pode ser aos pés de uma montanha ou serra mas não posso precisar onde e, pode ser nas cercanias da província onde nasci, mas lá não tenho certeza que haja praças como essa; a que vejo dos olhos da memória. Pode ser que a criei com traços e linhas de praças outras por onde passei. Gosto de praça assim como de oásis e ilhas. É agradável essa praça; agradável ao olhar transeunte e aquietado por entre ela. Praça que tem um “quê” de aprazível, algo de turbulência de tufão, algo de abandonada, como um quintal de casa e também calmaria solene e silente de cemitério; tem um toque de bosque virgem, daqueles que se penetra apenas com os olhos e a alma e jamais com pés e mãos. Está claro! Essa praça é só imaginação. Nessa imaginação tem árvores tantas inclusive baobás; trilhas ariscas, bancos alheios e mesas de madeira; tem fontes e canteiros muitas vezes floridos, um ambiente que atiça lúdicos espíritos; tem capins selvagens e espalhadas pedras tão mais velhas que a memória humana; quando chove em choro o céu formam-se poças-espelhos; tem muitas sombras e muita sombra e também clareiras e cantões; pássaros vários passam por ela, a praça, a imaginação. É ordenada e naturalmente caótica; verde bucólica; ventos ventam entre suas árvores frondosas; é tão ampla como um coração amoroso e, à guisa de passos, vasta como a palma de um pé. Essa praça é e está sitiada pela urbe. É poética e boa para prosa. Telúrica. Praça que tem alma própria. Ela é só imaginação. Ela é uma praça.

Civone Medeiros



ODETE: UMA VIDA NO BECO

O Beco da Lama, que é pai de todos os becos, tinha uma mãe que durante 28 anos o alimentou. De pirão, sarapatel, peixe no coco, cuscuz, macaxeira, feijão verde, e também de música e poesia, apesar de não cantar, não tocar violão nem saber o que é um verso.

Era ela que todo dia, cedinho, abria seu pequeno estabelecimento de porta única, três metros, se muito, de frente, quatro metros, idem, de fundo.

Uma cozinha apertada, um banheiro que mal cabia uma alma.

Mas era ela quem estava ali, a receber quem chegava, com a fome que estivesse.
A galinha caipira cheirava, levando paladares de sonhos pelas ruas maiores da cidade, mas ela, pequenina, nem se dava conta do manjar que preparava. Era como se nada fizesse. Como se aquilo apenas fosse mais um dos tantos pratos preparados vida a fora, a saciar bocas muitas vezes ingratas, estômagos vazios muitas vezes também de ternura e agradecimento.

Dona Odete foi mãe do Beco por merecimento porque o tinha como filho. Adotivo, é verdade. Mas um filho que viu crescer e, como toda boa mãe, esperou vê-lo melhorar de vida, sair da lama primeva, tornar-se saneado e querido para ser alma da cidade.
O Beco ainda é mal cuidado e muitas vezes imundo, mas seu carinho por ele não diminuiu por isso.

Reclama melhor iluminação. Clama por segurança. Pede paciência diante das autoridades que dela cobram, mas que pouco fazem pelo pedaço que ajudou a fazer boêmio e referência de uma cidade.

Foi no batente frontal de seu estabelecimento que o maestro Mainha resolveu morrer, aos 80 anos de muita canseira vida a fora. Ele que, pressentindo a morte chegar, para lá dirigiu-se, pediu a última, despediu-se, e foi-se como chegou à vida: sem nada ou quase nada, porque deixou amigos poucos que o amavam, é verdade, e composições que ninguém sabe se um dia chegarão à memória: coisas preciosas.

Quando chegou ali, o Beco da Lama era bem mais lama que beco, nem nome de rua tinha. Era apenas fundos de casas famosas de ruas afamadas e bem tratadas por que abrigavam comércio e casas de gente bacana. O Beco servia-lhes apenas para despejo de águas servidas. Só. E para a ostentação do nojo que se mantém, sem que nada façam por ele.

Mas Odete acreditou e lá ficou, fazendo o seu cuscuz matinal, torrando sua galinha caipira, mexendo o pirão do peixe no coco, servindo a talagada de cana para os papudinhos de todos os dias.

O sorriso ingênuo que sempre trouxe nos lábios, sorriso convidativo, diga-se, poucas vezes deixou-se anuviar por acontecimentos tristes, ali também tidos. Manteve-se majestosa e altiva, mas hoje não enfrenta diariamente a lida, velhice chegada, esperança ida, porém, na certeza de que deixou um fruto. Maduro. Tenro. Mas que, se cuidado, novos trará, e manterá viva a labuta que se merece labuta, porque do trabalho vive o homem que também vive do sarapatel que Odete preparou um dia e da cachaça que fê-lo esquecer a vida não querida, mas real, de lá adiante, bem longe do Beco. Onde a vida não lhe mais sorri.

Odete partiu para sua aposentadoria merecida. Ficou o Beco e o seu eterno encantamento.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 9:54 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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