"O esforço de cientistas que se debruçaram sobre complexas questões como porque os pica-paus não têm dor de cabeça enquanto bicam os troncos das árvores à procura de besouros, ou o papel da massagem retal na cura do soluço foi reconhecido nesta quinta-feira com o prêmio IgNóbil, uma sátira ao Nobel, entregues em Cambridge (Massachussets) apresentados por ganhadores do prestigiado prêmio concedido pela Academia Real Sueca."
France Press
o rio
para Civone, Mércia; Antoniel, Nei; Orf, Dunga
e todos os meu amigos de lá
o sol brinca de potengi nas águas do capibaribe
e brinca de capibaribe se porventura estou lá
o sol sabe de tardes de margens de correnteza e mangue
sabe de igrejas e fortes à beira-rio-quase-mar
o rio por sua vez sabe de água caranguejo e gente
do que se diz do que se vê de quase tudo que se sente
o rio sabe de ser porto e caminho mortalha e berço
acalanto e incelença — todas as cantigas — e mais
sabe ser fêmea bem-amada pelo sol e oferecida
ao rio macho à luz da lua para de novo a amar
e enquanto o sol sonha-se rio e liquefaz-se de poente
o rio mais quer-se rio não sol-no-rio-quase-mar
e brinca de ser potengi nas águas do capibaribe
e insiste em ser capibaribe se porventura estou lá
Márcia Maia
O Potengi me tange
Os barcos do Potengi
Navegam meu olhar
Quando embarcam
Em barco com eles
Quando tu embarca
Meus olhos marulham, embaçam
Me molham de água de rio
Ou é por esses olhos que o rio corre, decorre
M’esqueço que outras vezes sou eu quem vai
Vôos, navegos e voltas, avenidas dos contornos, retornos
Você sempre torna, me volta
Qual abelha, eu também estou sempre no entorno
Corre-corre
Pra boca da barra, que sou
Corre, da boca do rio de você
E m’atiça, desperta os cios, revela
Me beija, me descerra e me descobre
Descubro teus véus, talos e flores, afloro
Xananas, acácias, buganvílias, mangabeiras
Flor de jambo no chão, tapete róseo
Me vem tudo à mente
As imagens mais belas
Minhas carícias sem defesas
Amo como quem não teme
Rósea a flor desperta entre pernas que te beija
A espada de santo é tua, e vem intensa, com leveza
Teus em mim, semens sementes
Te protege Potengi em meu rio ventre, aflue fluente
Me molho de teus molhos e manhas, lambuzo-me desse rio
Te como a tarde, de noite, na madrugada, pela manhã
Nem sei onde me ser, ou me estar
Como te ser star, me serestar
Qual não me ser, qual estar
Quero você, meu anelo de strass
Rio sozinha, atlante
Ou com tua presença, ausente
Saudade é isso
Que não se explica
Então é sodade
E banzo não se benze, só bate
Que às vezes nem existe, se inventa
Ou é verdade ou é um intento de ausência
Pra sentir mais, o que se sente
E escrever quiçá um poema
Me preza o rio sem pressa, que prezo
Desrepresa-se um rio inteiro de amar, d’ardor
Fitar você é transe
Trance de olhares em flamas, é transa, corpos em trança
Me beija a cidade, correnteza
E esse amor de mililitros me'mbriaga, me néctar
Navego com ele
O crepúsculo me leva ao longe
Fico sem saber onde é onde
O não-sei-onde
Onde eu te encontre, encante, você me cante
No quando, num quarto, de horas, num canto
Às vezes a dista é dentro
Nem é nos longes
Onde encerro meus pés
O agora e os ontens
Onde o finito me horizontes, infindos
Na terceira margem das visagens
Todos amanhãs me encontrem, até nas tangentes
Onde minhas mãos me escorrem
Artimanhas sensações
O Potengi me é ponte
Aporte dos sentires, quereres
É da vida, cenário, inventário, roteiro, mirante
Alma cheia de braços e mangues, me navega pros teus ondes
O Potengi, amor, pois é, ele me tange
Civone Medeiros