"Nós fomos atingidos"
Henry Yandle, passageiro do jato Legacy que teria se chocado com o Boeing 737 da Gol
Alexandro Gurgel
Auto da Liberdade, Mossoró/RN
DISSONÂNCIA
Quanto mais perto chego
Mais distante me sinto
Quanto mais silêncio respiro
Mais um dia deliro
Quanto mais doce a indiferença
Mais cheirosa minha paciência
Quanto mais a poesia delicada
Mais profunda, impiedosa
A facada
Deborah Milgram
HOJE UM DEUS VEIO ATÉ MIM...
E eu que sempre duvidei
pudesse haver esse momento,
postei-me de joelhos
- não em ato -
mas em pensamento.
Ao vê-lo, assim, tão perto
e tão pra mim sorrindo,
fiquei numa euforia transbordante
e quase não contendo a alegria
eu quis poder tocá-lo
- que heresia! -
E foi talvez por isso
- por eu ter cometido esse pecado -
que algum anjo que estivesse mais atento,
percebendo a tempo o meu intento,
apressou-se a protegê-lo, nesse instante.
E foi assim, e foi tão de repente
- não sei se nessa hora houve protesto -
que ao atender do anjo o tal chamado
de mim ele evadiu-se, simplesmente.
Quisera que algum dia ele voltasse
- e todo soberano do seu tempo -
parasse o Universo, a sua lida,
por apenas mais um pouco,
um só momento,
e não me achasse santa ou atrevida...
somente uma mulher,
tomada de tamanho encantamento
e infinitamente embevecida.
Neide de Camargo Dorneles
Bendita Poesia
Na próxima quinta feira (05.10.) a partir das 21h., acontecerá no Teatro de Cultura Popular (F.J.A.) mais uma edição do projeto "Bendita Poesia", patrocinado pelo Governo do Estado/Fundação José Augusto.
O referido projeto privilegia o poeta que utiliza sua produção poética das mais variadas formas: com o auxílio de texturas sonoras, elementos visuais, data - show, performance.
O projeto tem dimensão regional, e já abrigou no seu palco, poetas do Ceará, Pernambuco e Paraíba.
Nesta quinta-feira teremos a seguinte programação:
Poesia Esporte Clube (RN)
Ivan Marinho (PE) e Malungo(PE)
e Carlos Emílio(CE) e Lindenberg Munroe(CE)
(antes do sarau, acontecerá lançamento dos livros dos poetas, e logo após a apresentação deles, um bate-papo com o público presente.)
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE...
Poema Matuto
Assa noite, seu dotô,
meu coração tava aberto,
e a sodade, alí, pru perto,
no meu peito, imburacô.
Chorei munto, sim sinhô,
porém, parei de repente.
Butei uma idéia na mente,
prá matá essa danada,
e vô dá uma viajada,
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE.
Vô fazê uma revisão,
na minha motocicreta,
prumode pegá a reta,
da caatinga do sertão.
Abraçá o meu povão,
meus amigo, minha gente,
vê canturia, repente,
vô brincá, vô fazê tróça,
vô prá Maiáda de Roça,
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE.
Zé Ógusto, meu irmão,
paricêro qui Deus me deu,
vai de carona mais eu,
levando seu violão.
Vô chegá de supetão,
sastisfeito e surridente.
E p'ro meu povão carente,
de curtura populá,
nóis dois vai se apresentá,
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE.
Prá donde eu sô cidadão,
minha amada Boa Vista,
vô rodá, cumendo pista,
vê Genilson, meu irmão.
No Bar de Sebastião,
eu vô decramá contente.
Pego a moto, novamente,
novamente, pé na istrada,
in procura da Maiáda,
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE.
Lá na Maiáda, ao chegá,
eu sô mutivo de briga,
entre ais pessoas amiga,
qui tudíin qué me hospedá.
Prá aquelas banda de lá,
sô gente daquela gente.
E sô fruto da semente,
qui lá, eu prantei, de amô,
qui êles vão revê, dotô,
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE.
Prá o qui eu quero revê,
um fim de sumana é pôco.
Dei caríin; e amô é o trôco,
qui eu sei, vô arrecebê.
Lá vô passá, pode crê,
uma sumana deferente.
Vô pagá munta aguardente,
p'ruis matuto, amigos meus,
que são presente de Deus,
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE.
Vô levando meu poema,
canturia e violão.
Prá ajuntá, no meu sertão,
cum o canto da sariema.
Sertão, meu eterno tema,
do danô-se, vôte, ôxente,
da bela istrêla cadente,
qui de noite, a gente vê,
vô me incrontá cum você,
NO ÔTO SÁBO PRÁ FRENTE...
Bob Motta