sexta-feira, dezembro 09, 2005

UM LADRAO DE ESCRAVOS



`Eu não fiz nada de errado. As pessoas são levadas a botar todo mundo que milita na política no mesmo saco.`
Vice Jose Alencar


UM LADRAO DE ESCRAVOS

Coronel Odilon de Amorim Garcia
(Fortaleza-Ce, 01.01.1846 - Natal, 28.04.1922)

Agente do Lloyd, professor, abolicionista. Nome de rua em Areia Preta, Natal, e de escola estadual em Macau.

Filho de tradicional família cearense, com suas raízes na cidade de Aracati, nasceu em Fortaleza e estudou na Inglaterra. Chegou a Natal no final da década de sessenta do século XIX, fez concurso para professor do Atheneu, tendo sido, segundo suas próprias palavras, `lente de ingles por 33 anos`. Foi o primeiro professor desta língua estrangeira na cidade.

Representou a Companhia Nacional de Navegação, depois transformada em Lloyde Brasileiro, a partir de 1871, sendo responsável pela chegada do primeiro navio de grande porte a Natal, o `São Jacinto`. Permaneceu nesta atividade durante 51 anos, quando transferiu a representação ao filho que tinha o seu nome e que durante mais 49 anos continuou na representação da Companhia.

O `Coronel Odilon`, como era conhecido, foi, até o seu falecimento, vice-consul da Inglaterra, exercendo tambem a representação da Suécia, Uruguai e Noruega no Estado. Esta sua familiaridade com embarques e desembarques de passageiros e de cargas foi muito valiosa na sua atividade como abolicionista.

Cascudo refere-se a isso do seguinte modo: `João Avelino e Odilon Garcia especializaram-se em furtar escravos e embarcá-los para o Ceará. Rondavam a casa, pulavam o muro, convenciam os negros de que a liberdade era digna de um atrevimento, ajudavam a arrumar os molambos e fugiam carregando trouxas, redes, moleques, guiando a caravana ate um ponto escondido onde a barcaça, quase sempre o iate `Jiriquiti`, esperava, balancando-se nas águas verdes do Potengi` (Cascudo, p.351, 1980).

Já bem idoso, Odilon Garcia confidenciou a sua neta Lucy Garcia que `o que ele mais se orgulhava na vida era ter sido ladrão de escravos, pois o bem mais importante na vida de um homem e a liberdade.`

Pertenceu ao Partido Conservador, da facção do conselheiro Tarquínio Bráulio de Souza Amarante, que tinha o costume de reunir-se na na farmácia do comendador Jose Gervásio de Amorim Garcia, irmão de Odilon. Este grupo era conhecido como o `Grupo da Botica`. O Coronel participava diariamente destas reunioes, conversando, jogando gamão, planejando. Foi vereador em Natal e chegou a exercer a Intendência. Morou sempre na Ribeira, sendo um dos benfeitores da igreja de Bom Jesus e, segundo Cascudo, foi o ultimo morador da rua Doutor Barata.

Jardelino Lucena

In 400 Nomes de Natal - Prefeitura Muncipal do Natal.



Moacyr de Góes
Histórias e delírios nostálgicos
Diário de Natal, 09 DEZ 2005

Um amplo panorama político, uma aula de história e os delírios de um experiente escriba. Talvez esses três pontos possam dar a dimensão da nova obra do professor aposentado da UFRJ e escritor potiguar Moacyr de Góes, Chão das almas, que será lançada hoje durante o projeto O livro e a leitura, promovido na Praça Pedro Velho (Praça Cívica). Na ocasião, ele irá proferir a palestra O processo criador na literatura, a partir das 16h, no auditório Luís da Câmara Cascudo, montado no local, e em seguida haverá o lançamento, pela editora Edufrn. No próximo ano, o livro também será lançado no Rio de Janeiro. A entrada é gratuita.

A obra integra uma trilogia, cujo primeiro título foi lançado há exatos 20 anos, Entre o rio e o mar. Nessa obra o autor conta fatos históricos que ocorreram no Brasil, de 1945 a 1968, e a eles mistura personagens fictícios, responsáveis pelo romance da publicação. O segundo livro se remete a um período anterior, entre 1930 e 1946. ‘‘Utilizo a mesma metodologia do primeiro livro. O meu olhar parte sempre daqui de Natal e os personagens fictícios recriam os tipos da cidade. Gosto muito do bairro das Rocas, já que na época do projeto De pé no chão também se aprende a ler (programa de alfabetização popular, promovido pelo governo Djalma Maranhão, e implantado pelo próprio Moacyr que na época exercia a função de Secretário de Educação), as nossas experiências sempre começavam por lá, então me familiarizei muito com o bairro. Não me prendo a realidade local, mas a vivência da história é sempre aqui, o caldo cultural é natalense’’, lembra Moacyr e ainda ressalta que o livro também traz fatos da política nacional e internacional.

Segunda obra

A obra inicia com a Revolução de 30, passa pela rebelião comunista de 35, pelo Estado Novo, pela 2ªGuerra, as mudanças sofridas em Natal em conseqüência da grande batalha e a parte histórica termina em 1946, quando a base de Parnamirim foi transferida para o governo brasileiro. ‘‘Na última parte do livro, a qual chamo de parte 0, dedico a ficção, ao meu delírio, aí ninguém me pega’’, diz lembrando que os outros livros da trilogia também seguem essa mesma estrutura. O referido capítulo recebe o nome de Nas asas do pavão Mysterioso (cuja grafia segue a veracidade do título da literatura de cordel). Nesse momento da narrativa os personagens fictícios estão em Moscou fazendo um curso, na iminência de serem presos, quando o pavão aparece para trazê-los de volta ao Brasil, ‘‘o pavão conta a eles o futuro, pois com o olho esquerdo ele enxerga o futuro e com o direito o passado. Essa é a parte do realismo mágico da América Latina, na linha de Gabriel Garcia Marquez’’, avisa.

Apocalipse

O título termina com o apocalipse de São João, no qual um dos personagens é Afonso Laurentino Ramos, amigo do autor e diretor de Projetos Especiais do Diário de Natal. ‘‘Ele surge na frente, comandando 10 personalidades do Rio Grande do Norte que foram alvo de uma coleção, lançada por este jornal. Ele vem embaixo de uma umbrela que é segurada por Joaquim Caldas Moreira, uma espécie de historiador do qual fui amigo. Nos meus livros coloco todos os meus amigos’’, lembra o escritor.

O autor recorda que a idéia da trilogia surgiu a partir de uma pergunta de um repórter potiguar, quando ele estava na fase de pesquisa da obra que será lançada hoje, ‘‘estávamos na praia de Pirangi em uma entrevista. Falamos do Entre o rio e o mar e do meu projeto de lançar este livro de agora. Foi então que ele me perguntou se seria uma trilogia e eu fiquei com essa idéia na cabeça. É tanto que em setembro passado comecei a fazer a pesquisa do último livro da trilogia, no qual falarei da geração pós-golpe de 64 indo até i ano 1988, quando Ulisses Guimarães levantou a constituição cidadã’’. Como as outras suas obras, esta deverá ter uma ‘gestação’ de quatro a cinco anos até ser lançada.

por Alma do Beco | 10:48 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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