domingo, dezembro 04, 2005

EM SONHOS NAVEGANDO


Marcus Ottoni
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... é de se supor que a PF requeira a prisão de Valério e nós temos interesse nisso. Mas ele parece agir com absoluta confiança na impunidade. Quem tem meios, recursos e forças que o Marcos Valério tem, é difícil dizer se amanhã ele estará respondendo pelo que fez.
Relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR)

Karl Leite

A lua e Vênus, hoje, cedinho da noite

ENTRELINHAS

Cheiros, rostos, nomes
Ruas, becos, praias
Músicas,
Códigos
Sorrisos tímidos
Mesclados
Ao sagrado passado
Com gosto
Indefinido
tremendamente gostoso
de sal
Ou será de mel?

Deborah Milgram



SEGUNDA-FEIRA

Ai, segunda-feira...
Quem hoje me lê tentando não lembrar dela?
Segunda-feira é um daqueles dias que dificilmente não acordamos pesados, cansados; como se quase precisássemos de um guindaste para nos arrancar da cama. E, quando finalmente conseguimos, olhamos para ela e fazemos imediatamente uma versão daquela música de Lenine; "a cama me chama, chama..."
Mas, indiferente, isto é, quer dizer, fazendo um esforço enorme para ser indiferente aos apelos sensuais e aconchegantes dos meus lençóis de seda (acredite se quiser) prosseguimos na nossa cinza vida de gado de cada segunda-feira.
Depois de enfrentar engarrafamentos que geram muitos bocejos, a fluidez das ruas mais desocupadas serve para dar continuidade ao despertar, através das ultrapassagens que descarregam adrenalina no sangue. Pronto! Encontrei o que preciso para começar o dia acordada: adrenalina. E para acelerar o despertar dos sentidos, as outras "inas" permitidas: cafeína e nicotina, antídotos para o excesso de melatonina de um relógio biológico completamente dessintonizado com as obrigações do cotidiano.
E cá estou eu, em plena segunda-feira, ainda não completamente acordada, ensaiando escrever para o próximo domingo. Abordar o cotidiano de forma preferencialmente humorada, poética, meio erótica, performática, não é tarefa tão simples quando não se consegue vivê-lo temperado com tais ingredientes. E o que fazer sem as asas da onírica senhora inspiração aberta sobre mim? Então procuro as leituras. Elas descem em cascata nos e-mails que deslizam tela abaixo. Através do olhar, que tento deixar atento, procuro mensagens, notícias ou comunicações instigantes. Preciso urgentemente de mais adrenalina, endorfinas, seratonina e todas as "inas" produzidas naturalmente pelo nosso corpo em situações agradáveis para continuar o dia.
O longo jejum dos ursos polares, motivado pelo inverno rigoroso, fruto do efeito estufa; as pendengas de uma bruxa virtual com um arengueiro que desconfia de sua identidade sexual ou as paixões arrebatadoras do premiado poeta Antoniel Campos, que deixa ofegante seus leitores, são temas que trazem novo despertar. Ler as considerações científicas, filosóficas e religiosas sobre o Santo Daime, conclui o processo de abertura dos olhos e da mente. Pronto! Acordei de vez!
Talvez precise mesmo é de natureza. Do Deus das pequenas coisas que me levam até Ele, o Deus maior. Talvez precise de passaporte para as viagens interiores, como fazem os Daimistas, para proceder descobertas, encontrar respostas; definir conclusões que persistem inconclusas e repetem-se como fantasmas apavorantes que minam as forças, e sugam energias como vampiros sedentos. Talvez precise de mais tempo para enfrentar estradas nebulosas, dúvidas atrozes, expedições desbravadoras de territórios desconhecidos; para decifrar as múltiplas opções criptografadas nas reticências que preenchem os espaços existentes entre os ou...ou... Talvez precise de mais café novamente. Ou de não existir o tempo preciso, com suas medidas fragmentadoras, seus famigerados minutos, segundos e todas as chatices decorrentes de uma eterna luta contra o relógio. Talvez precise de mais cama, mais sonhos, outras realidades. Talvez precise urgentemente que o próximo domingo tenha uma noite tão longa que só termine na terça-feira que o sucede. Aí sim, será um maravilhoso dia. Então, quem sabe, poderei escrever uma inspiradora crônica.

Ana Cristina Cavalcanti Tinôco



Zila Mamede
As faces desconhecidas da autora
O Poti, 04 DEZ 05

O pesquisador Cláudio Galvão relata no livro, Zila Mamede em sonhos navegando, detalhes, minúncias sobre a vida de Zila que ainda são inéditas, como a presença forte do misticismo religioso durante a sua adolescência.

Aluna do Colégio Imaculada Conceição, ela estava decidida a ser freira. ‘‘Seu pai prometia o quanto em dinheiro ela quisesse para gastar brincando um carnaval, desde que ela desistisse da idéia de ser freira.’’ Ela conta em uma entrevista que nunca aceitou a proposta, mas desistiu de ser freira durante um banho de mar, ocasião na qual ela estruturou mentalmente o poema ‘‘Canção do sonho oceânico’’, do livro Rosa de pedra (1953)’’, diz Galvão.

Na obra, o autor também lembra o ano de 1953, quando o Diário de Natal tinha um suplemento literário editado pelo poeta, professor e jornalista Antônio Pinto de Medeiros. Ele também assinava a coluna Santo Ofício, sob o pseudônimo de Torquemada. ‘‘Nesse espaço, ele elogiava quem merecia e era implacável com quem queria ser intelectual e não tinha condição. Um dia, ele pediu a Zila uma cópia do poema ‘‘Mar Morto’’ para publicar no suplemento, e comentou: ‘pra mim, esse soneto é a coisa mais séria surgida nos últimos anos na língua portuguesa’’.

Pinto ainda publicou ‘‘Canção da rua que não existe’’ e foi nesse período que Zila firmou-se como poeta.

As 220 páginas do livro, que tem apresentação de Sanderson Negreiros, traz diversas fotos da poeta, cópias de poemas seus completamente rabiscados mostrando o processo de criação, além de cópias de correspondências trocadas entre ela, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

Nas cartas, é possível perceber a amizade que ela tinha com os dois, os conselhos que recebia deles, os incentivos deles para com ela e os elogios que Zila recebia.

Navegar nos sonhos de uma eterna poeta

Uma pessoa agradável e doce no trato com os amigos, mas, ao mesmo tempo, determinada na hora de defender suas causas. Atrevida, ela chegou a conhecer e se tornar amiga de grandes escritores, como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, por ter tido a ousadia e a coragem de enviar-lhes cartas com seus poemas.

Dedicada, quando estava trabalhando em um projeto era incessante, abnegada, concentrava todos os seus esforços, se desgatava, era extremamente exigente consigo mesma, mas conseguia obter o resultado esperado. Pioneira, trouxe a função de bibliotecária para o estado, lutou pela implantação do curso na UFRN e pela formação de mão-de-obra. Esses traços da personalidade forte da poeta Zila Mamede estão do livro Zila Mamede em sonhos navegando, uma biografia escrita pelo pesquisador e amigo pessoal Cláudio Galvão, que será lançado na próxima quarta-feira, às 18h, na Capitania das Artes. O evento integra a programação do 15º Festival de Cinema de Natal. O livro é o primeiro volume da coleção Letras Natalenses, da Capitania das Artes em parceira com o Diário de Natal. Não será emitido convite impresso para a ocasião, todos os interessados podem participar.

‘‘Zila é uma pessoa muito aprovada, tem unanimidade da crítica como poeta. Todo mundo sabe que a sua poesia tem aceitação total. No Rio Grande do Norte, nunca se levantou uma voz para criticá-la. Poetas como Drummond e Bandeira eram seus amigos e fãs. Mas, pouco se sabe sobre a sua história de vida, muito menos sobre sua atividade profissional pioneira e decisiva como bibliotecária no Rio Grande do Norte. Ela foi a primeira a se formar e vir para o estado brigar para que a biblioteconomia fosse reconhecida como profissão técnica e especializada. No livro, conto pequenos fatos de sua vida, mas não falo sobre a vida íntima, sentimental e nem econômica. É uma biografia da poeta, da jornalista, da funcionária do Diário de Natal, da bibliotecária’’, conta o autor que se dedicou durante dois anos ao livro e também compartilhou da amizade de Zila, inclusive sua esposa, Mailde Galvão, era sua amiga íntima. A obra foi enriquecida por uma cronologia, ‘‘que foi cuidadosamente pesquisada e preparada pela bibliotecária Gildete Moura de Figueiredo, amiga, colega de trabalho e admiradora de Zila’’, conta Cláudio.

Premonições

A idéia para o nome da obra surgiu a partir de uma estrofe do poema ‘‘Mar Morto’’, no qual Zila escreveu: ‘‘nem em sonhos navegando’’. O autor quis fazer uma referência ao fato de ela ter morrido no mar, em 13 de dezembro de 1985, aos 57 anos, e das inúmeras premonições que fez em sua obra sobre a própria morte.

‘‘As premonições dela são extraordinárias. Em seus livros existem exatos 13 poemas sobre o mar. No capítulo final, coloquei todas as estrofes de poemas seus relacionados ao mar, nos quais ela fala sobre a própria morte. Além disso, Zila morava no edifício Caminho do mar e morreu numa sexta-feira 13’’, relata o autor.Tantas coincidências e premonições levaram muitos a construírem a certeza de que a poeta havia cometido suicídio, enquanto nadava na praia do Forte, atividade que ela desempenhava sempre que tinha um tempo livre. Ela estava em boa forma física, era uma exímia nadadora e profunda admiradora do mar, isso reforça a tese da família e dos amigos que não acreditam em suicídio, entre eles está o próprio escritor que afirma ter ocorrido um acidente.

‘‘Ivonete (Mamede, irmã que morava junto com Zila) escreveu um texto para o livro contando a última semana de vida de Zila, especialmente o dia de sua morte, afirmando que ela estava muito bem. Ela diz que Zila estava tendo umas tonturas e estava estressada, pois havia concluído o livro Civil geometria que deu um trabalho enorme, exaustivo, e ela terminou esgotada. Zila estava aparentemente saudável e nadava muito bem’’, argumenta Galvão. Para reforçar a sua teoria, o pesquisador colocou no livro a versão do terapeuta de Zila, Márcio Tassino. ‘‘Ele explicou que Zila estava apenas cansada fisicamente e ele havia sugerido que ela tirasse 30 dias de licença para repousar, fazer atividade física e desempenhar atividades que ela gostava, desde que permanecesse longe de trabalho. O terapeuta ainda disse que ela estava cheia de planos para o futuro, achando que tinha terminado o pesadelo do livro Civil geometria, no qual ela faz uma análise da obra de João Cabral de Melo Neto, que até hoje é a melhor análise crítica sobre sua obra já publicada’’, afirma, lembrando que tal obra só foi publicada após sua morte, e ainda relata afirmações de Tassino contando que Zila fazia planos para retomar a poesia e publicar um novo livro, ‘‘Ele ainda disse que Zila estava exausta e não depressiva. Disse também que nenhum suicida se suicida por afogamento, que é uma morte lenta. O suicida quer se ver livre da vida o mais rápido possível’’.



Quando a Polícia funciona

Se o Estado colocasse permanentemente à disposição da população o enorme dispositivo - eu queria dizer aparelho - policial (incluindo aí o pessoal do Trânsito) que está colocando para a segurança do Carnatal, a cidade de Natal, de Poti mais bela, seria a capital brasileira mais tranqüila, mais segura.

Todo o aparelho do Estado colocado para proteger 30, 40 mil felizardos da classe média (mais os manuelões dos camarotes) a se soltarem na folia, na esbórnia, coisa assim em torno de cinco por cento da população da Cidade, incluindo aí a massa de turistas que vem dos estados vizinhos.

Um despropósito.

Dia desses, vi na televisão um coronel da PM, com condecorações no peito, expondo o plano de segurança para o Carnaval. Fiquei impressionado. Os mapas que ele ia abrindo, mostrando as ruas interditadas, as áreas de estacionamentos, por onde só podia trafegar ônibus, as faixas dos pedestres, o desfile dos blocos, o trio elétrico.

E tome mapa, transparências, quadros, números, câmeras de televisão, postos da guarda. Um craque. Por isso, tantas condecoraçõesno peito. O coronel, abrindo os mapas, apontador indicando os locais estratégicos de Lagoa Nova, me fez lembrar o general Eisenhower,comandante supremo das Forças Aliadas, no seu carro-reboque camuflado pelos bosques de Portsmouth, Inglaterra, na véspera do Dia D.

Ah, Natal.

Woden Madruga
Tribuna do Norte

por Alma do Beco | 7:32 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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