segunda-feira, janeiro 19, 2009

VESTÍGIOS

Marcus Ottoni




“Não estou fazendo uma ‘caça a bruxas’, mas tampouco vamos nos acomodar diante da situação lastimosa que encontramos (a Prefeitura de Natal). Vamos ser transparentes e trabalharmos dentro da legalidade para revertermos essa situação deixada pela administração anterior.”


Micarla de Sousa



Hugo Macedo




Vestígios de mim



Joguei ao mar as chaves do meu coração. Vesti viseira no rosto de olhos encharcados de sal. Pedi clemência a mim mesma. Despi minha alma.

Sou assim e sem remorsos. Sempre fui assim: espalho pelos caminhos tudo o que poderia guardar. Prefiro estradas improváveis, marés ressacadas, noites escuras.

Os abismos abrem-se diante dos meus pés e eu sigo. Se busco algo ou alguém, não sei. Talvez busque a mim mesma ou a um sonho que sei nunca dormirá em mim.

Busco capelas onde eu possa rezar; santos pastores a quem eu possa dizer dos meus muitos e impenitenciáveis pecados. Comigo, não levarei escombros. Apenas um corpo usado e suado em camas que não foram minhas. Alavandadas.

Recordo a primeira entrega. Aquela que foi única e verdadeira. Depois, o adeus na plataforma da rodoviária à qual nunca voltei.

Foram muitos passos e passes mágicos os de minha vida. Fiz acordos e prometi alianças eternas, nunca cumpridas. Fui traída e traí, atraindo cavernas ao meu destino.

De despenhadeiro em despenhadeiro, deixei vestígios espalhados em encostas e trilhas ornadas em jardins de aromas silvestres.

Como tudo foi bom e vazio!

É isso: talvez a vida seja esse vazio de contentamento. Vazio que nem a morte promete.

Gargalho. Sou louca. Sou sã. Escrava de pedidos de perdão improferidos, sou assim.



Neuza Margarida Nunes

Praia de Cotovelo, 16 de janeiro de 2009




MINHA CASA DE TAIPA...
Bob Motta


Taipa é o barro amassado,

purentre ais vara intranhado,

nais parêde do sertão.

É uma obra de pobre,

na quá o sertanejo nobre,

faiz a sua cunstrução.



O piso é o chão batido,

qui o sertanejo sufrido,

máia inté induricê;

e alevanta sua casinha,

cum a sala, o quarto e a cunzinha,

adonde êle vai vivê.



Cunstruí na minha mente,

e amostro prá minha gente,

na minha imaginação;

uma bem piquinininha,

prá você, minha rainha,

morá mais eu, no sertão.



Ela fica lá no arto,

a meia légua do asfarto,

a uns cem metro de um barrêro;

adonde tem, faça fé,

felicidade agrané,

de janêro a janêro.



No aipende, um pá de aimadô,

adonde tu, meu amô,

prá nóis dois, áima uma rêde.

A cangáia do jumento,

cum uis demais arriamento,

lá num canto de parêde.



Na sala; sofá, cadêra,

a ispingarda suvaquêra,

e o rádio sempre ligado;

o Coração de Jesus,

derramando a sua luz,

no meu solo abençoado.



Um retrato de São Jorge,

bem pertíin do meu aiforge,

Nossa Sinhora a me oiá;

in duais báia, no terrêro,

tem dois cavalo baxêro,

mode nóis dois passiá.



Uma fulô de jarmim,

tirada lá do jardim,

pru você, tão bem cuidado;

uma lâmpada “Aladin”,

tudo bem arrumadíin,

cum seu toque registrado.



Da jinela, no roçado,

nóis vê míi, fêjão fulorado,

verdadêro paraíso;

você, bunita e chêrosa,

fazendo inveja ais rosa,

faiz eu abri meu surriso.



Na cunzinha, dois fugão;

um a lenha, ôto a caivão,

faiz nossa cumiduria;

lôiça de barro amassado,

munto bem feito e queimado,

de importante séivintía.



A mesa e uis tamburête,

uma faca e um trinchête,

prá bebê; água firtrada;

qui vem de um tanque distante,

qui a todo e quaiqué instante,

tá fria, quage gelada.



Uma panela de quaiáda,

noite e dia perparada,

prumode dá seu recado;

num é cumida de luxo,

mais dá mode inche o bucho,

de quaiqué necessitado.



O quintá num é diserto.

Tem o banhêro cuberto,

cum fôia de bananêra.

Tem guiné, pato, peru,

tem um pé de mulungú,

e tem galinha poedêra.



Um forno de aivenaria,

tem um tanque, uma bacia,

tem tombém uma latada;

uma cisterna bem feita,

mode fazê a cuiêta,

nuis tempo bom, de invernada.



Vêiz purôta, minha fia,

nóis faiz uma canturia,

cum dois baita cantadô;

êles canta na latada,

e eu decramo, minha amada,

prá você, versos de amô.



Pru tanto amá meu passado,

cum ela, eu sonho acordado,

e digo p’ruis meu leitô;

qui essa casinha, in verdade,

se torna realidade,

no sonho do trovadô...

por Alma do Beco | 5:32 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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