"A largada da nossa candidatura foi dada recentemente."
Candidata à Prefeitura do Natal, Fátima Bezerra, justificando seus baixos índices de intenção de voto em pesquisas eleitorais.
A BOLA FOI COM DJALMA
Chagas Lourenço
Era 1961. Eu morava na Campos Sales em frente ao Seminário São Pedro, que, naquela época, tinha uma atividade religiosa intensa, além de um grande número de seminaristas. Estudava no Colégio Marista, na 1ª Série B, onde formamos um time de futebol de salão ao lado de Washington, Bel, Jair, Toinho Barbosa e Alexandre Bebé Chorão. O técnico era Irmão Anchieta.
Fora do colégio, o esporte preferido era jogar botão. Vidro inquebrável, baquelite, plástico derretido, lixa d’água e parafina eram materiais indispensáveis para se fazer um bom time. Os beques, mais fornidos, tinham nas bordas ângulos de 90° para chutar bola (botão de camisa) rasteira. Os atacantes formavam ângulos mais abertos, com um bico de gaita para chutar alto, cobrindo o goleiro, geralmente uma caixa de fósforos.
Toda manhã ia para o colégio e quase sempre de carona num Bel Air azul,rabo de peixe,do Desembargador Carlos Augusto, junto com Caju, filho do magistrado. À tarde, era para jogar botão com Avelino Piúba, Vicente Cabelinho, Gatinha, Ariston, Chico Caraolho, Escurinho, Jair, João Felipe, Chico Doido, Lourencinho, David, Dwigth, Ledo e a turma de garotos que freqüentavam o América da Rua Maxaranguape.
Resolvemos fundar o nosso próprio time de futebol de salão: o Corinthians. Fui escolhido presidente.
Na primeira reunião, tratamos de arrecadar fundos para comprar a bola, camisas, calções e meiões; o tênis era por conta de cada um. Demos um balanço nas mesadas e o resultado foi pífio: só dava para comprar a metade das camisas. Tínhamos quer ir à luta.
Reunimos uma comissão com três participantes e fomos ao centro da cidade para pedir ajuda aos comerciantes. Saímos pela Apodi, entramos na Deodoro, João Pessoa e, finalmente, Avenida Rio Branco, onde se concentravam as maiores lojas de Natal.
A primeira loja que entramos foi a Casa Duas Américas, e encontramos, logo na entrada, o proprietário, um sujeito alto, musculoso, com bíceps se avolumando na camisa de mangas compridas, cabelos impecavelmente penteados com brilhantina Glostora. Era o Sr. Nagib Salha.
- Senhor, nós estamos formando um time de futebol de salão e viemos pedir uma ajuda para comprar as camisas.
Nagib olhou de cima pra baixo pra mim, que a essa altura já tremia o corpo inteiro, enfiou a mão no bolso, abriu um sorriso e nos deu cinco cruzeiros. Pegamos o dinheiro e saímos felizes da vida. Em seguida, fomos à Formosa Síria, Casa Rubi, Casas Cardoso, até que chegamos a Ulisses Caldas, e resolvemos ir à prefeitura.
Chegamos ao Palácio Felipe Camarão, por volta das três da tarde, entramos sem ser interpelados e fomos logo subindo a escadaria de madeira. Já no saguão que dá acesso ao gabinete, uma senhora muito gentil perguntou:
- O que vocês desejam?
- Falar com o prefeito, respondi.
- Olhe ele aí.
Quando me virei, vi aquele homem alto, de cabelos pretos ondulados, e me dirigi para ele. Eu estava gelado e tremia todo por dentro.
- O que você quer, garoto? Perguntou Djalma, colocando a mão na minha cabeça.
- Senhor, nós fundamos um time e estamos pedindo uma ajuda para comprar o material.
- Time de quê, meu filho?
- De futebol de salão, respondeu um dos amigos que me acompanhavam, pois eu já não conseguia falar.
Djalma abriu um sorriso largo, enfiou a mão no bolso, que me pareceu bem fundo, de uma calça branca de pregas ao lado dos bolsos, puxou uma nota de vinte cruzeiros e me entregou, afastando-se com dois assessores, rumo ao gabinete.
Saí andando de costas, olhando para aquele homem, que, também, andava de costas para mim.
- Obrigado, balbuciei.
Aquele dinheiro deu para comprar a nossa bola.