quarta-feira, novembro 19, 2008

NAVARRO

Marcus Ottoni


"Não queria ter saído."
Maurílio Pinto, lamentando sua saída da Subsecretaria de Segurança


Alexandro Gurgel



Newton Navarro

Elder Heronildes


Newton Navarro completaria este mês, oitenta anos. Pode-se dizer, seguramente, que ele enche uma época, enche o tempo, enche uma vida, pelo transbordamento da sua vulcânica inteligência e da sua inquietude na tessitura pluralística de uma arte que glorifica, pela sua monumentalidade, o ser humano, em seus diferentes contextos e circunstâncias. É a persononificação da arte em sua plenitude, na dimensionalidade da sua exuberante criatividade, que parece algo divinal, descendo em cachoeira incontida para dar sentido ao finito existencial.

Tinha prazer em cantar a vida e trazê-la, na simplicidade grandiosa de suas telas ou na radiosa harmonia de suas poesias, ou ainda, na eloqüência de gestos e de ações, na descritividade de suas crônicas, ou ainda na urdidura elaborativa dos seus contos e novelas; trazer e fazer da vida uma entidade comum, no chão do nordeste que tanto quis e amou.

Segundo lembra Luiz Carlos Guimarães, nosso grande poeta, ele mesmo dizia que sua “temática era o nordeste. Mesmo quando pinto Dom Quixote, eu o pinto vestido de vaqueiro, com traços característicos dos homens nordestinos. 'Eu sou uma resposta do que vi e vivi'.”

Pelo poder criativo que nele abundava, graças à força da arte que se entranhava de maneira indissociável à sua alma, em permanente ebulição, unia na mesma grandeza, beleza e musicalidade, a pintura, a poesia e os mais diferentes textos, sem seccionar o nexo, a cadência e a harmonia.

Talvez por isso é que Luiz Carlos Guimarães, em discurso na Academia, proclamou com autoridade de amigo e de grande poeta:

“Essencialmente um poeta, Newton Navarro transformava em poesia tudo que tocava.”
E falando sobre a grandeza do escritor e do pintor, revela:

“Valendo dizer que escrevendo é um pintor e pintando e um escritor, numa conjugação de ambivalência que o torna um artista multifacetado e completo. Desconheço quem tenha demonstrado tamanha vocação de artista. Múltiplo, dominava com igual talento todas as áreas da atividade intelectual”, sentenciou, concluindo, Luiz Carlos Guimarães.

Ler Navarro é uma satisfação. É um instante de enlevo e de envolvimento. A alma sente a inspiração penetrante das imagens esvoaçantes dos seus textos. Na prosa, exala poesia. Na poesia, transborda uma magia de encantamento que enreda a ala nas teias da sublimação total.

Na crônica 'Joana – Sem', que linda e penetrante imagem:
“Sei de Joana que é muito pobre e por isso remenda seus sonhos com pedaços de nuvens.”

Poesia pura numa simples crônica.

Faz-me lembrar o que disse Affonso Romano de Sant’Anna sobre Rubem Braga, ao prefaciar “Livro de Versos”:

“E, no entanto, todos sabem que ele é dos maiores poetas da língua, só que em prosa.”

As narrativas de Beira Rio atingem um clima de nostalgia, fazendo surgir profundos sentimentos de saudade, de muitos e de quantos eram cúmplices fiéis e constantes de noites alegres e de indormidos e fervorosos instantes de serenatas, cânticos dolentes como uma espécie de reverencia espiritual àquela:

“Beira – Rio tem sido Pátria de apátridas e canto protetor desses deserdados que herdam, no entanto, o templo amplo e solto do não ter nada.”

Amou e cantou a Redinha, despojada e bela. Viveu os seus momentos e dali extraiu crônicas luminosas, revelando mitos, pessoas simples, lampejos de amores, de encontros e desencontros, fazendo do mar o estuário de suas visões nostálgicas, num sentimento de clareza que só a praia lhe proporcionava, vendo integralmente “O território livre da Redinha”, porque: “Há um misterioso chamamento que vem das bandas de lá. Vem no vento manso que arrepia o rio.”

E mais:

“O convite chega até você de muitos modos e de formas diversas. O nome adocicado e leve, da praia, do lado de lá, já por si mesmo é um convite: Redinha”.

Há, por acaso, neste Estado, alguém que haja cantado e docemente elevado o nome Redinha, como Newton Navarro?

Câmara Cascudo lhe devotava grande afeto e admiração, além do respeito à sua inteligência e sua verve poética, que se completava pintando, escrevendo (prosa) e falando. Fazia belíssimos discursos, às vezes, até inquietantes discursos.

Ele também gostava, admirava e cultuava o grande Mestre. E certa ocasião, num vislumbre poético, disse:

“A janela de Cascudo é a última luz que se apaga nas noites de Natal.”

Viveu intensamente os dias, todos os dias, como se fosse o último. Exteriorizou, de diversas maneiras e modos, a carga de energia interior que possuía, como se pressa tivesse de realizar com intensidade a obra que realizou, com estilo inconfundível e em gêneros diversificados, que lhe eram peculiares e singulares.

E ao fazê-lo, exercitava com a plena convicção de que “o estilo não passa do movimento da alma”, no dizer de Michelet. “Sua alma é um único e ininterrupto grito, e sua obra é a interpretação desse grito” (Kazantkákis).

por Alma do Beco | 9:56 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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