O poeta Cefas Carvalho lança na Livraria Siciliano, do Midway Mall, na próxima quinta-feira, 4 de Maio, a partir das 19:00h, o seu terceiro livro: Reinvenções.
Retrovisor
Também na quinta-feira, às 21:00h, no Veleiros Restaurante - Ponta Negra: Khrystal.
Quem não viu o show anterior do Retrovisor, não deve perder esse de jeito nenhum.
Muito rock. Ritmo.
Khrystal não perdoa, não economiza, ataca, beija, alisa...comunica!
Vai perder?????
Valeria Oliveira
“Não podemos permitir que em cada Estado prevaleça só a vontade do Estado. Se pode prevalecer, então não venham me dizer que a prioridade é o projeto nacional.”
Lula, ontem, no 13º Encontro Nacional do PT
Acervo Ceiça de Lima
À esquerda: Ceiça, João da Rua, Carlos Bem, Falves Silva e João Gothardo. À direita: Volontê, Luciano de Almeida e Severino Ramos.
Bar de Pedrinho, meados dos anos 90.
NAS ADJACÊNCIAS DO BECO
Acordei cedinho e, enquanto fazia o chimarrão, meu pensamento, acostumado a falar consigo mesmo, escapou, tomando voz: “...a eleição da SAMBA foi ontem...”, ele disse. Quando me dei conta, olhei para os lados e senti um alívio, pois pensei no quanto estranho soaria isso caso alguém aqui de casa – não muito familiarizado com o mundo virtual -, resolvesse perguntar. Até que eu explicasse... ihhh, ia demorar.
- Samba?!
- Ah, sim – eu diria.
E aí viria uma dissertação sobre o Beco da Lama, os intelectuais de Natal, os textos, as pinturas, as poesias, a luta pela valorização da cultura por puro amor, etc. e eu me lembraria de mais coisas que andei lendo...
E porque eu haveria de estar me importando com um movimento/grupo, sei lá o quê, lááááá do Rio Grande do Norte? E, pra isso, qualquer tentativa de explicar iria exigir um imenso esforço e tempo.
- Sabe? Um dia um poeta me enviou um endereço para olhar um poema seu publicado no almadobeco e eu vi uma crônica do Cid Augusto.
- Pára, pára... um poeta? Cid?
- Ahhh, não me atrapalha, deixa eu continuar. Pois então, vi a crônica do Cid, escrevi pra ele, que entregou um poema meu pra publicar no jornal O Mossoroense, de Mossoró, e depois outro que mandei também.
- Mossoroense? Lá de cima também? Um jornal de lá de cima? Poemas seus?
- É..., sim, por quê? Não pode? Eu não sou bairrista.
E antes que me respondessem eu continuaria:
- E acessando O Mossoroense e o almadobeco fiquei fã do grupo e entrei na comunidade do Beco da Lama no orkut, cujo dono é o Dunga.
- Dunga?! No or... o quê?
- ...kut. Orkut. É, Dunga. Na verdade o nome dele é Eduardo Alexandre, Dunga é apelido.
- E o que tem esse Dunga a ver com essa história enrolada?
- Também, você não me deixa falar... Ele, o Dunga, é o presidente da SAMBA, pelo menos, até ontem, era. O Dunga viu meu nome na comunidade dele e visitou meu perfil pra saber quem eu era, eu soube que ele me visitou porque ficou registrado no meu orkut. Escrevi pra ele, que visitou o meu blog e me convidou pra fazer parte da SAMBA.
- Te convidou pro samba? Visitou teu perfil aonde? Que raio é isso de blog?
- Não. Não é O samba, é A SAMBA – Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências.
- Te convidou pra fazer parte? Mas adjacência... adjacência não é...
- É, sim... O dicionário diz que adjacência quer dizer “proximidade, vizinhança”.
- E, desde quando, Erechim é adjacência de um Beco lá de Natal?
- Ai meu deuzinho do céu! Eu não vou começar tudo de novo... Blog, Beco, Orkut, SAMBA, perfil, comunidade, Mossoró... Explicar que estou adjacente por freqüentar os mesmos autores e textos...
...
Ufa!!!
Ainda bem que não havia ninguém por perto pra começar essa polêmica. Mas ela virá, eu sei. Ai, ai.
Neide de Camargo Dorneles
DUAS CRÔNICAS DE LÉO SODRÉ
Monólogo acontecido hoje, numa certa casa às margens
do Açude Gargalheiras:
O cabeludo balançava-se preguiçosamente. O único esforço era para pegar o copo de cerveja num tamborete, vez por outra. Ao seu redor, Tatá, Dimas e Dudé. A tarde estava indo embora, junto com alguns pingos de chuva. Ele começou:
- Eu não podia ir. Penso como Assis Chateubriant: somente se deve fazer comício duas vezes no mesmo local. Quando ele foi candidato a senador pela Paraíba, somente foi lá duas vezes, e ganhou! Então, para que ir ao Beco? Besteira. Alex está por lá e irá garantir a nossa esmagadora vitória. Chegarei nos braços dos bêbados, quero dizer, do povo. Além do quê, essa chuva pode ir embora de uma vez e pintar uma foto premiada. Pra quê ir? Tenho bem umas dez cervejas, as meninas estão quase
chegando, o chá de Mororó está quase no ponto e ainda por cima vou economizar 84 reais de passagem, sem falar nas esmolas que tenho de dar lá em Nazaré e na conta, que não sai por menos de trinta e cinco reais. E o táxi para ir para Ponta Negra? Mais umas 40 pilas! Vou nada! Alex que tome conta. E, cá entre nós, ele vai dar um show. Depois eu chego, serelepe, bem vestido, somente para tomar posse. Vige, a
chuva chegou de novo. Pega ali um umbu, Tatá, que eu vou é tomar uma de cana. Que chiado é esse? É o rádio? Tem alguma notícia nova?
- Você perdeu... - emendou Dudé.
LeoSodré
Sorriu chorando
Por Leonardo Sodré
leosodre@omossoroense.com.br
Eduardo Alexandre (Dunga), só dorme de rede. Faz tempo que o seu quarto foi tomado por quadros, painéis e tintas e não há mais espaço para uma cama. O guarda-roupa não existe. Suas roupas são guardadas por três cadeiras quebradas. Numa delas, coloca as camisas de tecido, vestindo o espaldar. Noutra, coloca as camisas de malha, sobre o assento, e na outra as calças. Quase não veste bermudas. Num canto, perto da porta, uns dois sapatos herdados e um par de havaianas. Equilibrado numa quina de lata de acrílico, uma carteira de cigarros Free, um isqueiro e uma caixa de fósforos, onde guarda o segredo mais conhecido da casa e da cidade.
Como dorme em rede, dificilmente olha para cima. Sempre está de lado. Mas, hoje, diferentemente dos outros dias, ajeitou-se para olhar o teto. Estava vestido como no Sábado anterior. Será que vim no meu carro? Quem me trouxe? Terá sido Chagas? Osvaldo? Na verdade, queria ver o céu. Estava escuro de chuva e o quarto, meio na penumbra, não tinha nenhuma brechinha de luz.
Ele queria ver claridade. Começou a pensar nos últimos três anos, desde quando assumiu a diretoria executiva da SAMBA (Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências) numa aclamação providenciada por ele mesmo no Bar de Pedrinho Abech, que agora é ator dramático e jogador profissional de baralho. Esboçou um sorriso de satisfação, quando se lembrou do que havia feito pela entidade. Tantos eventos!
Semicerrou os olhos quando pensou na influência cultural que a SAMBA exerce hoje junto aos gestores municipais e estaduais da cultura. Lágrimas desceram lentamente. Teimavam em descer. Como se quisessem perpetuar suas lembranças. Ele as sentiu na boca. Não tinham sabor, como se fosse água. Água Benta de Padre Lucas. Sorriu chorando. Pensou depois nas centenas de artistas que trabalharam no Carnaval do Centro Histórico e que ainda não haviam recebido seus pagamentos.
Chorou de novo, impotente. Queria ter resolvido a questão antes de entregar o cargo ao professor Bira, mas não havia conseguido. Ah! Se eu tivesse dinheiro, pagava a todo mundo, como já fiz com aquele músico que queria me agredir, e depois recebia. Mas não tinha dinheiro. Saíra mais pobre do que entrara na entidade. Finalmente, uma luz entrou por algumas frestas de telhas mal colocadas.
Viu alguns papéis. Umas tantas poesias. Livros que nunca publicou. Fotos desarrumadas. Cartazes. Lembranças. Apenas maneava a cabeça. Não fazia esforço. Depois de horas resolveu se levantar. Tomou banho, trocou de roupa e vestiu vaidoso a camiseta do Pratodomundo. Tomou café e pensou: Vou já fazer uma Galeria do Povo!
Já tinha dado a volta por cima – no caminho passo no Beco somente para sentir o ambiente, sem ninguém -, e numa mesa improvisada, onde dormia o seu papagaio, que era viciado em poesia, pegou pregos, martelos, poesias, quadros e se dirigiu ao portão. Quando abriu, havia um homem que pretendia deixar uma correspondência. Ele foi logo perguntando: “O senhor é o dono da casa?” Eu? - respondeu ele -, eu não! Eu, meu amigo, sou apenas:
O bobo da corte.
O perambulador.
O menino vadio...
Que sorri da vida...
Que sorri da sorte...
Que zomba da morte...
Eu sou! *
* Poesia de Eduardo Alexandre (Dunga), numa versão do autor do texto.
Canto de jardim
Foto: Orf
“Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente”
Chico Buarque de Holanda
Tomo como epígrafe os versos de Chico Buarque, para dizer do meu contentamento com a festa presenciada e vivenciada por um grande número de pessoas que foram ontem ao Beco da Lama para escolher a nova diretoria da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, a Samba. Cem pessoas deixaram seus votos na urna, num pleito bem dirigido e organizado pelo poeta Plínio Sanderson.
Ganhou a chapa Beco Vivo, representada pelo professor Bira, com 72 votos. Uma vitória incontestável.
“Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar.”
E tomo novamente versos de Chico para lembrar o quanto ainda há a fazer.
Terminamos uma gestão que consolidou a Samba como entidade cultural ativa e atuante e isso é preciso manter.
Tenho esperanças na gestão que inicia e, mais que isso, confiança quanto à realização de um bom trabalho.
O clima fraterno em que transcorreu o antes e o durante, também o depois, da eleição é sintoma de um grande bem-querer existente. É desse bem-querer que se obtém o sucesso alcançado. E é essa a chama que passa agora a ser empunhada pela nova diretoria eleita e que assume no próximo 13 de Maio, quando da realização da primeira eliminatória do I MPBeco.
Parabéns aos professores Bira e Alexandro pela saudável disputa travada. E parabéns a todos os que fizeram dessa eleição o exemplo que deixará.
A partir da posse, novos sonhos se materializarão.
Dunga
AUTO RETRATO
Observo mais
Do que Vivo
Invisto menos
Do que preciso
Para ter sentido
Vivo
Respiro
Atiro
Morro
E falo mais do que escrevo
Sou assim a esmo
Aos outros atento
Muito mais que a mim mesmo
Sou um espelho
Uma imagem convertida
Em várias imaginações
Um homem da vida
Um mirante que vê a vida
Cego de alucinações
Nem por isso
Sou mais ou menos
Talvez apenas
Um ser normal
Um parecer ameno
Ou só mais um ancestral
Mas sou um filho da rima
Uma criança que brinca
De ser adulto nos trilhos
Observo
Vivo
Respiro
Atiro
Falo
Escrevo
E morro há anos
Eu sou um perigo
Uma fantasia
Desde o dia
Em que descobri ser humano
Mário Henrique Araújo
Testemunha
Nos idos anos 70, quando as vítimas da prostituição geralmente eram mulheres muito pobres e de pouca beleza ou nenhuma, que vendiam os corpos para sobreviver ou alimentar os filhos de pais que não assumiam, e que as mesmas não tinham amparo nenhum da lei ou do poder governamental, Severina Branca, uma das pioneiras da prostituição em São José do Egito (Pe), ao passar pela barbearia de Zé Rocha encontrou dois poetas repentistas improvisando versos numa cantoria de pé de parede. Severina Branca parou e ficou encostada ouvindo os vates na peleja da viola. No intervalo de um baião de viola, alguém olhou pra Severina Branca e disse: "Severina, diga um mote pra os poetas improvisarem". Severina Branca pensou um instante e disse um mote que hoje está imortalizado dentro do universo da poesia nordestina. O mote foi "O silêncio da noite é quem tem sido/Testemunha das minhas amarguras". Os poetas improvisaram belos versos. Quando terminou a cantoria, Severina Branca se dirigiu para seu pequeno quarto/casa e fez algumas estrofes que infelizmente eu não as tenho. No transcorrer dos anos, muita gente fez decassílabos em cima dos motes de Severina Branca. Hoje, depois de muitos anos, foi que a inspiração veio à tona e eu fiz alguns decassílabos usando o mote da poetisa marginal.
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras
Mergulhei nos abismos infernais
Que nem Dante deu passos com Virgílio
Na Procura de achar algum auxílio
Eu sofri nos subúrbios marginais.
Vi o ocaso nas horas matinais
Entre os braços de estranhas criaturas
Que me abraçavam nas horas escuras
Pra sugar do meu corpo um gemido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.
Troquei beijos com bocas amargosas
Sob as luzes de um velho candeeiro
E senti de alguns corpos podre cheiro
Entre as névoas de noites vaporosas.
Hoje as marcas das dores horrorosas
São sinais dos momentos de loucuras
Machucando minh'alma com torturas
E deixando o meu ser enlouquecido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.
Inda sinto o tremor das mãos sujas
Afagando o meu corpo pecador
Ao invés do prazer sentia dor
E no meu peito a voz dizendo fujas.
Entre as brechas das telhas as corujas
Agouravam as minhas desventuras
Eu gritava pra Deus lá nas alturas
Leve logo este ser que é tão sofrido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.
Quantos homens chegavam embriagados
Dando chutes na porta como loucos
Os gentis para mim foram tão poucos
Eram seres tristonhos, reservados.
Eu perdi a noção dos meus pecados
Pela fome com facas de perjuras
Que cortava minha alma com agruras
E sangrava o meu peito já ferido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas desventuras.
Sobre a cama meu corpo se tremia
De fraqueza, de fome e de sede;
Noutro canto meu filho numa rede
Quem olhasse pensava que dormia.
Mas a fome causava-lhe agonia
Lhe roubando fagulhas de venturas
Eram cenas cruéis de vidas duras
Condenadas num mundo corrompido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.
Hoje eu vivo jogada ao relento
Sem um teto sequer para dormir
O passado, o presente e o porvir,
Me jogaram no duro calçamento
Condenada num frio isolamento
O meu corpo só tem as ossaturas
Pra os insetos fazerem aventuras
Ferroando o que já foi consumido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.
Gilmar Leite
Doce coração de símio
Em 26 de outubro de 1984, o Dr. Leonard L Bailey transplantou o coração de um babuíno para o peito de uma criança.
A notícia correu mundo rapidamente, como rapidamente o assunto chegou ao esquecimento, depois que, no dia seguinte, a criança, chamada pelos médicos de Baby Fae, veio a falecer.
Na época, o movimento cultural, para nós, girava em torno do então Centro de Cultura (onde hoje funciona o Memorial Câmara Cascudo) e o Mintchura, bar comandado pelo jornalista Miranda Sá, nos fundos daquele prédio.
A ousadia do Dr. Bailey foi uma esperança para a humanidade e a morte de Baby Fae comoveu o mundo.
Quando soube da notícia do falecimento da criança, o poeta João (da Rua) de Morais escreveu um poema:
“Baby Fae
Doce coração
de Símio
Quem sabe
da próxima vez
Você dá certo?”
(João da Rua)
Eduardo Alexandre