“Até o dia da eleição vai valer tudo no império do populismo.”
Woden Madruga, na Tribuna do Norte de hoje
"O comportamento indecoroso de alguns agentes públicos expôs ao desgaste as instituições do Estado, aprofundando o descrédito que já o fragiliza perante a sociedade."
Roberto Busato, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, na posse da ministra Ellen Gracie na presidência do Supremo Tribunal Federal
Acervo Ceiça de Lima
60 SEGUNDOS
Quando os quês
Forem definidos
Quando os porquês
Forem respondidos
Quando os quandos
Forem sincronizados
Quandos os comos
Forem solucionados
Quando os aondes
Forem selecionados
Quando os quantos
Forem mesuráveis
Quando os se
Forem eliminados
A história
Será recontada…
Deborah Milgram
Caboclo nordestino
O poeta cantador Zé Marcolino foi pra mim uma espécie de iniciação musical; não como professor de música, mas, foi através das suas composições, que eu dei os primeiros passos como ouvinte das coisas belas que compõem a alma sertaneja em termos de identidade musical. Ainda me lembro no bar de João Macambira( atrás da minha casa), em São José doEgito, ele, com sua voz grave, tendo como instrumento musical uma caixa de fósforo e cantando composições inéditas e os grandes clássicos que foram gravados na voz de Luiz Gonzaga. Nesse tempo não existia essa massificação banal de músicas(se é que se pode chamar de música) vazias, agressivas, que tocam de maneira ditatorial nos principais meios de comunicação do Brasil. Era uma época onde o banal quase não existia, e a juventude tinha a oportunidade de conhecer e escolher o que mais lhe agradava, e geralmente eram coisas boas. Foi ouvindo suas músicas, ora cantadas por ele, ora cantadas por intérpretes como Luiz Gonzaga, Flávio José, Santana, Maciel Melo, Dominguinhos, Irah Caldeira, Xangai, Vital Farias, Socorro Lira, Quinteto Violado e demais cantores, que uma saudade bateu, fazendo-me lembrar daqueles dias de boemias, às margens do Pajeú, em São José do Egito(Pe). Por isso como gratidão por aqueles tempos fiz um singelo poema em memória ao poeta cantador, filho do Cariri paraibano.
Saudade de Marcolino
Marcolino, poeta cantador,
A "cacimba" secou de tanto pranto
O "carão" não escuta o teu canto
"Sabiá" padeceu de tanta dor.
O "ciúme da lua" se acabou
Hoje vives morando perto dela
Desenhando teu canto numa tela
Seduzindo-a com tua serenata
Despertando seu riso cor de prata
Num desenho de linda aquarela.
O "serrote agudo" está tristonho
Não por falta das grandes vaquejadas
Mas por falta das notas delicadas
Dos acordes mostrando a lenda em sonhos
Só os vates de cima estão risonhos
O teu canto é a "saudade imprudente"
Que machuca o sertão que há na gente
Como o pranto na "mágoa de um vaqueiro"
Que tristonho, num banco do terreiro,
Faz aboios saudosos e dolente.
Oh! Poeta "caboclo nordestino"
As caboclas "cintura de abelha"
Soltam prantos em forma de centelha
Com saudades do canto campesino.
A "cantiga do vem-vem" pequenino
Sobre os galhos da "flor do cumaru"
Faz sentir Cariri e o Pajeú
A saudade das noites de São Joã
Ou as tardes tristonhas do sertão
Entre os cantos dolentes do nambu.
Hoje já não se faz a mesma dança
Nicodemos partiu pra outros cantos
Não se encontram mais os mesmos recantos
Duma "sala de reboco" com pujança.
A saudade dos "tempos de criança"
A "rolinha" com passos delicados
Um poeta com sonhos encantados
Numa "estrada" pisando no destino
Pra partir nos deixando um lindo hino
Através dos seus cantos coroados.
Gilmar Leite
Breves recordações de um tempo meu
Depois que fui exonerado da Fundação José Augusto por ser "o marajá da cultura do Rio Grande do Norte", passei 10 anos distante do movimento cultural da cidade.
Fui criar meus filhos, que, à época da exoneração, estavam com 4, 5 anos de idade, respectivamente, ainda em fase pré-escolar. 10 anos dedicados ao ensino particular, na matemática, português, inglês, história, geografia, o que viesse, depois de 10 anos inteiros dedicados ao movimento cultural da cidade - Galeria do Povo, Festivais do Forte, Dias da Poesia, Passeios Poéticos, Bar Verso & Prosa e outros.
Não sei o que levou alguém a pensar o que pensou, até porque, até hoje, nunca tive dinheiro na minha vida e o que eu ganhava da FJA dava somente para pagar o aluguel de uma casa de conjunto na Cidade Satélite, sem nenhum luxo e sem nenhum diferencial das demais.
Depois de me recuperar do trauma, mantive uma escolinha de reforço escolar - no batente pela manhã e à tarde, e, à noite, até às 10 horas, fazendo o Mural Escolar, tipo Galeria do Povo, na E.E. Sebastião Fernandes de Oliveira.
Até que, um belo dia, um amigo me convida a uma ida ao centro da cidade, para uma cerveja, onde nos deparamos com uma espelunca que era estacionamento de veículos e que também vendia geladas.
Daí, fiquei freguês. Quando acabava o expediente na Sebastião, passei a ir ao 664 - Meia Meia Quatro, como era chamado o espaço.
Foi a minha volta ao movimento cultural, já que, apesar do mural na E.E. Winston Churchill e, depois, na Sebastião, mantinha-me isolado do coletivo artístico para não voltar a me contaminar e permanecer 'nesse mundo sem futuro', sem grana e sem perspectiva como é aqui em Natal o destino de quem se mete a besta no ramo.
O Meia Meia Quatro era um bar sui gêneres, ali na Gonçalves Ledo, onde passei a conviver diariamente com seus proprietários, Paulinho e Bigode, e reencontrar gente das artes plásticas, poesia, jornalismo, amigos que eu havia deixado para trás na convivência.
Um desses grandes amigos era Ângelo Demoulins Tavares, o Jotó, que, diferentemente de hoje, 'bebia, jogava e era perdido por mulher'.
Jotó era o meu parceiro de cerveja e, dizia o doutor Bigode, advogado cearense, aqui se valendo do boteco para sobreviver, depois de uma fugida de um casamento frustrado por Fortaleza, que mantínhamos, eu e Jotó, uma conta conjunta, já que o velho não pagava praticamente nada, deixando por minha conta, na maioria das vezes, os pagamentos das despesas. Coisa pouca, de três, quatro cervejas, quando muito, pois cedo a escolinha me esperava para as aulas da manhã.
Por esta época, reencontrei o velho amigo doutor Zizinho, que me levou para a direção da CUT, a gloriosa (à época) Central Única dos Trabalhadores, cuja sede ficava e ainda está ali na Rio Branco, próxima ao Banco do Brasil.
Quase defronte ao Meia Meia Quatro, outra espelunca funcionava: era o Bar de Pedrinho, o preferido de Zizinho.
Ele era presidente da CUT/RN e tinha um sonho, além dos devaneios políticos, que era criar uma Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, esse adjacências providencialmente 'arranjado' por Volontê, para dar preciosidade à sigla - SAMBA.
O movimento cultural no pedaço cresceu.
Vieram as festas no Meia Meia Quatro e o movimento no centro da cidade tomou novo fôlego com novas adesões e muita festa.
Logo depois de fundada oficialmente a Samba, sem ter uma coisa a ver com outra, o Meia Meia Quatro entrou em decadência e os seus donos resolveram partir para outros negócios, enquanto Pedro Abech fazia uma boa reforma na espelunca de então, montando um bar que se tornou célebre por reunir, a partir do happy hour, uma boa moçada ligada às artes, tornando-se um ponto de convergência sempre em ebulição, especialmente no campo da música, fazendo surgir vários nomes para os palcos da cidade. Entre esses, Khrystal e Donizete Lima.
Do Meia Meia Quatro têm-se muitas estórias e muitas saudades. Prometo contar algumas delas mais tarde, aqui neste espaço.
Por enquanto, escrevo este não acabado pedaço de crônica, apenas para resgatar a foto que me chegou hoje a noite, de Ceiça de Lima, nossa diretora adjunta da Samba nas suas duas primeiras gestões.
Obrigado pelas boas lembranças que a foto traz, dona Ceiça.
Eduardo Alexandre