sábado, março 11, 2006

A PORTAS CERRADAS

Marcus Ottoni


“É uma tentativa de golpe contra as bases do PMDB. Vejo a mão oculta do PT e do governo patrocinando este movimento dentro do PMDB, porque o PT sabe que está desgastado e teme um candidato que represente uma nova opção para o país.”
Anthony Garotinho, sobre o adiamento das prévias para escolher o candidato a presidente pelo PMDB



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O Livro Negro do Beco

Negro, um livro quase-esotérico
do Beco,
de folhas tecidas nas brumas,
capas sob a cera dos tempos.

Um mago de barbas grisalhas
oculta-o, portas cerradas.

Liberdade resta lá fora.
Ferrolhos e chaves,
oxidados pelos ares das marés
de um rio-testemunha, o Potengi,
a receber os sais do Atlântico mar.

Clamar? Bradar?
O grito é para quê?

Ora, os gritos todos,
que não reconheci,
já romperam gargantas
e o silêncio que se inaugurou
é o silêncio-cemitério,
silêncio-não-Beco.

Que medo se exibiu?
Do povo?
Do polvo?
De tentáculos?
De tentativas de alguns?
De poucos que querem falar?
De loucos que querem contar
sobre suas simples escolhas?

Os olhos russos,
agudos,
do mago barbado
não me permitem acreditar.
Oculta-o, o livro,
portas semi-sepulcrais,
lacradas.
A palavra-mágica
teima em não ser
"abre-te, pergaminho
do querer."

Calar,
Calabar?
Onde és, Calabar,
eu não sei.
Só sei que é onde
não quero estar.

Permitam-se as escolhas,
sejam quais forem,
antes que os escolhos
da vontade
façam dobrar
a história
que, lindamente,
com abertos olhos, ouvidos
e boca,
já foi contada
e escrita
pelo próprio mago-guardião.
Num livro, à época,
a cores,
cores vivas
que me trouxeram,
do mundo em que estive,
fazendo-me escorregar, navegando
no arco-íris
da ilusão?

Um livro livre,
liberto da escuridão.
Um livro livre
da poeira,
do fosso aberto
onde caiu a criança
que brincava no ar.

Jogue-se o livro
ao mar,
ou, até mesmo,
ao fogo,
fogo que aquece
os dias e as noites
do Beco Livre.

O Beco que o mago
transformou
no "maior do mundo".
Virtuoso Beco
que tem muitas veredas,
portas de entrada,
e de saída.
Nenhuma delas
fechada,
todas elas paridas
no livro multicolorido
(de um mago envelhecido pelo temor?)

Lívio Oliveira

Karl Leite




Hai-Kais para o Beco e sua Alma

I

Beco virtual?
Sonhei que era sincero
meu cartão postal.

II

Peço teu copo.
Vi teu batom pintado,
boca que toco.

III

Se bebes ao mar,
tens o rio esperando
só pra te afogar.

IV

Publicas livros.
Para ler só tem quatro:
os mais precisos.

V

O Beco solto.
Lá! Vê naquela mesa?
Mora um louco.

VI

És só famosa.
Se não há quem o prove,
foi tudo prosa.

VII

Mais um amigo
mergulha nas duas luas
de teu umbigo.

VIII

Posso penetrar?
Já não é libertário
esse teu lugar?

IX

Sinto exagero.
Não é dessa mocinha
esse mal cheiro.

X

Em muito assuntas.
Mas eu quero perguntar:
já és defunta?

Lívio Oliveira



BARCAROLA

Não te recordas, querida,
Da noite em que nos amamos,
Sob a frescura dos ramos
Da laranjeira florida?
Gemia a viola na aldeia,
A brisa um hino entoava
E a luz da lua inundava
A terra, de rosas cheia!

Lá na planície da serra,
junho alourava as espigas,
vinham de longe as cantigas
das moças de minha terra,
quando te vi, linda flor,
e da nolte à doce calma,
derramaste na minha alma
o eflúvio do teu calor!

Saudade! quanta saudade
da noite em que, ao céu sereno,
tu me abriste o seio, pleno
de aroma e de mocidade!
A' sombra da laranjeira,
por ti, visão da alegria,
do meu beijo a cotovia
cantou, pela vez primeira!

Tu esqueceste os ditosos
domingos embalsamados,
e os cantos apaixonados
dos jangadeiros saudosos
que, ao céu transparente e azul,
do estio nas tardes belas,
passavam, molhando as velas
abertas ao vento sul!

Tudo esqueceste, e mais nada
resta em tua alma enganosa,
dessa paixão desditosa,
dessa ilusão desfolhada,
que lembro todos os dias,
pensativo, a cada instante,
Ó lavandisca inconstante
das areias alvadias!

Talvez que esta alma não possa
acreditar, nunca mais,
nos teus beijos aromais,
nos teus sorrisos de moça!
Ai, meu doce malmequer,
que me deixaste em janeiro,
- como tudo é passageiro
no coração da mulher!

Ferreira Itajubá




DE NATAL AO PARÁ

Adeus! Vão-se acabar as noites claras,
As trovas ao violão, pelos telheiros !
-planta das minhas ultimas searas,
- corpo dos meus pecados derradeiros!

O tempo voa. A ceifa das espigas
Voltará , para dar-nos mais cuidados,
–terra das minhas últimas cantigas
-vale dos meus prazeres acabados!

Adeus –sejas feliz, entre as famílias
Que te cercam nas praias alvejadas ,
-carne das minhas ultimas vigílias
-urna das minhas crenças desfolhadas!

Mais um beijo dos teus que das alturas
São o momento! E atira-me o rosário,
-horto das minhas ultimas torturas!-
cruz em que subirei para o calvário!

Ferreira Itajubá



Viajado (epa!) Laélio,

Um gigante.
É desses a quem a gente diz: ler sem medo - sem medo de tropeçar no verso (na rima, na métrica, no ritmo..). O Rei, sem dúvidas. O maior da Taba. Othoniel é o Príncipe (li, como que rapidamente, sobre a efeméride do Bardo, hoje: Aleluia, sempre), porque o bam-bam-bam da poesia potiguar é esse aí que vc diz, com propriedade, que faz arrepiar (veja que solução magistral, em termo de métrica, ele arranjou para esse último verso..).
Mas Nilson Patriota, que é das bandas de Touros, no livro Itajubá Esquecido, joga farinha no ventilador acerca da origem do Canguleiro: ele diz que Ferreira nasceu por lá, que tem testumunha, que isso, que naquilo. A favor dele, o fato que, realmente, a Rua Chile, então Rua do Comércio, era o "point" de Natal naquela época, e que um pobretão como o Itajubá, "jamé" poderia ter nascido ali...
Mas é voz sozinha nesse ponto.
Quanto às poucas letras do bardo, tido como um quase analfabeto, tb há controvérsia.. diz-se que Castriciano corrigia a parte gramatical, que ajeitava a coisa...
Cá pra nós: pura sacanagem. Quem conhece poesia, sabe que o que Itajubá escreveu, já estava na cabeça dele. É muito completo, muito fechada a coisa, muito arrumado, para uma pessoa, ainda que com a altura de Castriciano - que foi um poeta sofrível, ajeitar alguma coisa...
Revisão, vá lá, isso acontece até hoje, mas daí a querer tirar algum mérito do que fez o Bardo, péra lá.
E essa aí, dos despojos, conforme lamentou Cascudo, é de "reiá"!

abçs,
Antoniel Campos



Bardim, rapidinho (que estou saindo):

Henrique não era não! Quiçá as pequenas jaças das jóias de Itajubá tenham sido buriladas por Gotardo Neto - amigo íntimo do boêmio (pois boêmio também era) e um poetaço do tamanho do bonde.
Abs.

Laélio

por Alma do Beco | 7:44 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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