quarta-feira, março 15, 2006

MESTRA DAS PALAVRAS

Marcus Ottoni


"Eu convoco os iraquianos a começarem a resistir aos invasores."
Saddam Hussein





Versos decididos

por Fernanda Garrafiel

Jornalista por formação, Marize Castro trabalha há muitos anos com edição de livros, jornais e revistas. Mas foi na poesia que a autora encontrou seu centro. “A poesia me escolheu. Ela confiou em mim e eu me abri para ela. Ensinou-me, acima de tudo, a extrair meus poderes de mim mesma.” Entre suas influências, as norte-americanas Emily Dickinson e Silvia Plath, a brasileira Ana Cristina César e a inglesa Virginia Woolf. “Estas autoras são as minhas estrelas guias. Mas ainda há Clarice, Whitman, Rosa, Pound, Drummond, Rimbaud, Rilke, Auden, Pessoa … “ Ao falar de suas influências, Marize aponta um de seus poemas, de em seu último livro, Esperado Ouro:

Néctar
A verdade aproxima-se.
Olha-me com os olhos
abismados da beleza.

Não sou a mulher
que corta os pulsos e se joga da janela
nem aquela que abre o gás
nem mesmo a loba que entra no rio
com os bolsos cheios de pedra.

Sou todas elas.

Escrever me fez suportar todo incêndio
– toda quimera.


A autora tem quatro livros publicados, todos de poesia. Em 1984, lançou seu primeiro livro, Marrons Crepons Marfins, premiado e editado pela Fundação José Augusto – a fundação de cultura do Rio Grande do Norte –, e aclamado pela crítica paulista. Isso não garantiu a distribuição nacional da edição, mas expoentes como o escritor Ignácio de Loyola Brandão, o poeta e crítico Moacir Amâncio e Haroldo de Campos leram e incentivaram Marize a prosseguir. Quase dez anos depois, Marize lançou o seu segundo livro, Rito. Editado pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN, recebeu indicação de leitura da Folha de São Paulo e teve poemas traduzidos pelo professor e crítico literário norte-americano Steven White. O terceiro livro, poço. festim. mosaico., editado pela editora da UFRN, permanece quase inédito, pois a tiragem foi ínfima.

A guinada na carreira de Marize se deu em outubro de 2005. A autora lançou, em João Pessoa, seu quarto livro - Esperado Ouro - durante o projeto "Tome Poesia". “Espero que ele, com a sua claridade, possa chegar a várias almas neste país imenso, e reafirmar: o poema é linguagem erguida.” Desta vez, a autora decidiu ser a única responsável pela edição do livro e criou a UNA, uma pequena editora, bem articulada com as gráficas e instituições culturais de Natal. “Para o livro tornar-se realidade, procurei algumas pessoas e instituições e todas me responderam sim, as portas se abriram e todo ele foi patrocinado.” – conta Marize. Por enquanto, a poeta deu lugar à empresária e trabalha fazendo contatos, enviando o livro, recebendo livros de outros autores, agradecendo os livros enviados. “Poetas como Carlos Ávila, Guido Bilharinho, Luiz Edmundo (o incansável editor de Tanto), Ana Rüsche e tantos outros têm me enviado seus livros, tecendo uma rara teia. Na semana passada recebi Corpo Sutil, do poeta paranaense Ricardo Corona, que estou lendo com muita atenção e admiração. Na dedicatória, ele me alerta sobre nossas afinidades poéticas. É um trabalho que demanda tempo, gastos materiais, mas que é infinitamente prazeroso.”

Em maio, Marize Castro estará em Salvador, a convite do poeta José Inácio Vieira de Melo (autor de A Terceira Romaria), participando do projeto “Poesia na Boca da Noite” e lançando Esperado Ouro. Nos próximos meses, a autora vai iniciar um projeto intitulado “Flores do mais”, uma homenagem explícita a Ana Cristina César e Baudelaire, no mesmo tom do "Tome Poesia", no qual pretende ter sempre um poeta convidado de um outro estado do Brasil, para falar sobre a sua poesia ao lado de um poeta potiguar. “Tudo isto porque, a exemplo do poeta mexicano Octavio Paz, acredito que há uma característica comum a todos os poemas, sem a qual nunca seriam poesia: a participação.”

“Se a poesia nos escolhe, não há mais nada a fazer, o caminho é escrever.” E Marize Castro escreve com maestria, uma poesia curta e intensa, onde não há desperdício de palavras ou idéias. Parafraseando Haroldo de Campos: “Em seus versos há algo de fundamental, algo entre o belo e o verum, a verdade em beleza, um cuidade especial com a síntese, um encontro com a poesia.”

De veludo e sangue


Porque declino do seu amor, o véu das torres me invade.
Já engoli espermas. Já voei muito alto.
Aos santuários de meninos-lodos e meninas-ostras.

Neste hemisfério, o tempo é vermelho.
A fé: andrógina. A inocência: anônima.
O amante: cego e corcunda.

O meu leite rega a flor que o inimigo trouxe.

Aqui não há solidão
há bosques de lágrimas
unicórnios reunidos para falar de amor
aranhas flutuando num mar
de veludo e sangue.


Poema extraído do livro Esperado Ouro, de Marize Castro

Matéria publicada no
Café Literário – Jornal do Brasil
http://www.cafeliterario.jor.br/novos_autores/marizecastro.html

por Alma do Beco | 5:29 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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