quarta-feira, julho 22, 2009

QUARAR AO TEMPO

Marcus Ottoni

"Poucos presidentes foram tão hostis à atividade jornalística quanto o atual."
O Globo

http://www.natal.rn.gov.br/funcarte/paginas/Image/fotos/capitania/predio-capitania.jpg

Vontade de quarar ao tempo
lavar do corpo, a alma
ser feliz.

Vontade de guardar o vento
suplicar silêncio
cicatriz.

Vontade de morrer. Vontade de não-ser.
Vontade de passar
ao largo ___ sem

querer.

Clara de Góes
Tela: Eduardo Alexandre (162 X 130cm)

ALMA

Na tela manchas de alegria e tristeza se misturam.

Agonia,

Euforia,

Saudade,

Melancolia .

Moldura de sentimentos

Eternizados na revelação

...no quadro.

O retrato de alguma alma

Que se procura

Que se perdeu

Yasmine Lemos

22/07/2009



Berilo, trinta anos depois

Ticiano Duarte - Jornalista
Tribuna do Norte, hoje

Passados trinta anos de sua morte, ainda está na minha lembrança, viva, a presença de Berilo Wanderley. Foi no dia 21 de julho de 1979. Acordei com o telefone, no outro lado da linha, era Sanderson Negreiros:

- Já sabe?

- Do quê? Sanderson

E ele sem rodeios, despejou a trágica notícia:

- Berilo morreu.

Éramos quase vizinhos no Jardim Nova Dimensão. Companheiro de trabalho, no dia-a-dia, na Universidade. Ele chefe do Departamento de Comunicação Social e eu coordenando o curso de habilitação em Jornalismo.

Fiquei atordoado, três dias antes acontecera em minha casa um jantar oferecido a turma de concluintes do meio do ano, entre eles Antônio Melo e Dermi Azevedo, que escolhera Berilo patrono e eu, com muita honra, paraninfo. Tínhamos combinado, ele cuidaria da bebida e Yaponira iria preparar o jantar e guloseimas.

Jornalista, poeta, escritor, professor, membro do Ministério Público, boêmio, Berilo foi uma das figuras mais puras que conheci naqueles meus quarenta e oito anos de vida, já com certa experiência na convivência com as pessoas e as fraquezas humanas.

Brilhante, alma e coração de poeta. Não falava mal de ninguém. Quando não gostava das coisas ou das pessoas, calava. O silêncio era sempre uma resposta negativa ao que seus princípios e postura ética condenavam. Não gostava do regime militar, mas, se lhe perguntasse o que achava do general presidente, sua resposta monossilábico:

- Vôtis...

Esse vôtis é uma expressão de desagrado que aprendera e ouvira nos alpendres das fazendas das casas dos sertões dos seus ascendentes, em Angicos e Lages.

O pai Rômulo Wanderley, foi uma das mais expressivas figuras da advocacia, do jornalismo, do magistério, da política e da maçonaria, a partir da década de quarenta, em nosso Estado. Dele herdou o gosto pelos livros, a paixão pela leitura, pelo amor a conversa, pela convivência fraterna.

Mantinha colunas diárias, uma fase no “Diário de Natal” e outra por mais tempo, na “Tribuna do Norte”, “Revista da Semana”, igual estilo dos cronistas famosos da época, Rubem Braga, Fernando Sabino, na grande imprensa do sul.

Lembro-me daquela manhã triste de julho. Quando cheguei ao cemitério do Alecrim, não tinha coragem de me aproximar de Maria Emília, tal era o seu desespero, o choque de ter perdido o marido dormindo ao seu lado.

Teve uma vida rodeada de sonhos. Sanderson dizia que ele foi aqui, uma pessoa em trânsito. Tinha que voltar logo ao chamado de Deus. Refugiava-se para o poema e a fantasia e saía sempre para encontrar os amigos nos bares de sua preferência, nas rodas boêmias que ele sabia escolher, Navarro, Sanderson, Luiz Carlos, Diógenes, Woden, José Melquíades, Jardelino, Nilson Patriota, Ney Leandro, alguns dos seus companheiros de noitadas e vigílias.

Dorian Jorge Freire era seu compadre e grande amigo. Os dois juntos enfrentaram São Paulo, após o golpe militar quando resolveu deixar sua cidade.

Gostava das coisas simples. Um vendedor de passarinhos, um fotógrafo ambulante, um vendedor de literatura de cordel, o homem comum que passava ao seu lado, na rua, carregado de apreensão na caminhada do viver.

Seu rosto jovial e alegre ainda rodeia na escuridão de minhas noites de saudades. Naquele julho de 1979 perdi um amigo e dias depois, no sete de agosto, o maior de todos, meu velho pai.

por Alma do Beco | 9:13 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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